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Nova ronda negocial para trégua em Gaza começa hoje no Egito sem Hamas

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Uma nova ronda negocial para um cessar-fogo em Gaza entre Israel e os mediadores Egito, Estados Unidos e Qatar começará hoje, no Cairo, sem o grupo islamita palestiniano Hamas, indicou ontem uma fonte egípcia próxima das conversações.

"A esta ronda assistirão unicamente as partes negociadoras do Qatar, Estados Unidos, Israel e Egito", disse a fonte de segurança de alto nível, citada pela agência de notícias espanhola EFE a coberto do anonimato, acrescentando que o Hamas não participará nesta ronda, apesar de uma delegação do grupo, chefiada por Khalil al-Hayya, se encontrar na capital egípcia.

A mesma fonte referiu que, nesta ronda de negociações, os mediadores tentarão alcançar uma solução "perante a intransigência israelita relativamente às condições do cessar-fogo na Faixa de Gaza", bem como à troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos encarcerados em prisões israelitas e à entrada de ajuda humanitária no território palestiniano há mais de dez meses e meio palco de uma guerra.

Os mediadores tentarão também "pressionar a parte israelita, através da sua delegação participante na ronda, que inclui os dirigentes das duas agências [de serviços secretos israelitas] - da Mossad, David Barnea, e do Shin Bet, Ronen Bar -, a voltar ao acordo de julho, anunciado pelo Presidente norte-americano, Joe Biden".

Segundo a fonte egípcia, a delegação palestiniana, liderada por Al-Hayya, manteve hoje uma longa reunião com os mediadores para discutir a última proposta apresentada em Doha na semana passada, que o Hamas rejeita por completo, considerando "inaceitáveis as alterações introduzidas por Israel".

Entre os principais obstáculos a um acordo, conta-se a manutenção da presença das tropas israelitas nos corredores de Filadélfia - na fronteira entre Gaza e o Egito - e de Netzarim - uma via militar que divide o enclave em duas metades -, bem como o facto de Israel se recusar a assinar um compromisso firme de cessar-fogo definitivo e se reservar a opção de retomar a guerra.

Segundo a mesma fonte, o movimento islamita palestiniano apelou para "a necessidade de a comunidade internacional pressionar Israel e não o Hamas, porque Israel é o agressor, não o movimento Hamas, e as condições humanitárias estão a deteriorar-se gravemente na Faixa de Gaza devido à guerra israelita e aos massacres que comete".

O grupo palestiniano afirmou, ainda de acordo com a fonte, que é necessário que haja um acordo claro para a troca de reféns por prisioneiros sem "rodeios" israelitas, "como é costume, dado que rejeitam determinados nomes".

O Hamas mantém-se a favor do projeto que aceitou a 02 de julho, assente numa proposta norte-americana anunciada em maio por Biden, que incluía o fim das hostilidades e a retirada das tropas israelitas do enclave numa segunda fase.

Na sexta-feira, o Egito, os Estados Unidos e Israel mantiveram no Cairo conversações para tentar encerrar a questão do corredor de Filadélfia, que, segundo fontes dos três países, decorreram num clima "positivo" e "construtivo".

Perante o novo impasse nas negociações em julho, os Estados Unidos apresentaram há duas semanas uma nova proposta para "estender as mãos", que procurava reunir as exigências de ambas as partes, mas que o Hamas rejeitou liminarmente, classificando-a como um "golpe de Estado" por considerar que apenas servia os interesses de Israel.

O diálogo também estagnou depois de 31 de julho, quando foi assassinado em Teerão o líder político máximo do Hamas e seu chefe negocial, Ismail Haniyeh, num ataque atribuído a Israel.

Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.

Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Hamas fez também nesse dia 251 reféns, 111 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.

A guerra, que hoje entrou no 323.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 40.334 mortos (quase 2% da população) e 93.356 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

O conflito causou também cerca de 1,9 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.