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A nossa casa a arder

No dia em que redijo este texto de opinião, chegaram à Madeira dois aviões canadair de combate a incêndios, resultado da ativação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil. Mas já não vêm a tempo, infelizmente, de evitar a destruição de uma boa parte da nossa floresta, onde se incluem espécies endémicas e mais de 4000 hectares de floresta Laurissilva, Património da Humanidade, pela UNESCO.

Pode ler-se no site oficial de promoção da Madeira: “A ilha da Madeira é a orgulhosa guardiã de uma herança ambiental de inestimável importância. A floresta Laurissilva, que tem cerca de 20 milhões de anos, remonta aos períodos Miocénico e Pliocénico da Época Terciária.” Pergunto, se o Governo Regional esteve à altura do estatuto deste bem natural único; se teve a postura de responsabilidade exigida; se teve sequer consciência do seu comportamento displicente.

O Governo Regional da Madeira diz que a estratégia de contenção tem sido um sucesso. Que não foram acionados meios mais pesados, como os canadair, mais cedo porque o impacto da sua intervenção seria destrutivo para as produções agrícolas e habitações. Mas haverá algo mais destrutivo do que um incêndio descontrolado? Não terá Miguel Albuquerque consciência do valor patrimonial que estava em causa? Como madeirense, não lhe custa ver a sua ilha ser destruída e não ficar afetado?

Não se perdeu uma vegetação qualquer. Perdemos parte de um património riquíssimo em diversidade e singularidade, essencial para a manutenção da nossa ilha tal como a conhecemos e amamos.

A nossa floresta é importante não só em termos económicos, pela atratividade turística que representa, mas sobretudo pela sua importância para a nossa qualidade de vida. A floresta Laurissilva é essencial para a retenção da água e alimentação dos caudais aquíferos, para a contenção dos solos nas vertentes, evitando o deslizamento de terras, para a qualidade do ar que respiramos e para a própria preservação de espécies.

As consequências desta calamidade são óbvias no imediato, mas poderão ainda desencadear desastres, considerando o estado do solo após o incêndio, favorecendo o deslizamento de terras pelas vertentes e provocar cheias rápidas em meio urbano, quando comecem as primeiras chuvas.

Espero que o Governo atue de forma menos prepotente e com maior responsabilidade no estudo e prevenção de futuros desastres na sequência desta calamidade. Só não sei se será Miguel Albuquerque a liderá-lo.

Observo estes terríveis desenvolvimentos como se estivesse a ver a minha própria casa a arder. Afinal, esta maravilhosa ilha da Madeira é também a minha casa, é a nossa casa comum.