Democratura
O triunfo de George Orwell, um dos autores mais influentes do séc. XX, ficou marcado por duas obras-primas de uma genial actualidade: “1984” e “A Quinta dos Animais.”
No romance “1984”, Orwell descreve as engrenagens do poder e transporta-nos para um mundo silenciado pelo medo. Uma extraordinária distopia, carregada de crítica ao autoritarismo, onde o Estado tem um controlo absoluto sobre os cidadãos e manipula a percepção da realidade de acordo com as necessidades políticas. Um paralelo perturbador com o mundo de hoje, onde as personagens deixavam de ter liberdades individuais e eram falseadas em prol do deleite dos seus governantes. “[…] O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro […] é uma das frases mais impactantes do livro.
A fábula “A Quinta dos Animais”, é uma metáfora política, que começa por ser um grito de liberdade mas que se transforma num circo de animais que se manipulam em prol dos seus ideais. É uma analogia a um regime totalitário, caracterizada pela sátira alegórica à nossa sociedade e um autêntico hino à democracia, onde Orwell ensinou-nos que “somos todos iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.”
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Como diz o velho ditado: “tudo se pode fazer com as baionetas, menos sentar-se em cima delas”.
Cíntia Fernandes