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Incêndios Madeira

Raimundo Quintal considera que não é com gado nas serras que se resolvem os incêndios

Geógrafo lembra que cabras e ovelhas não comem eucaliptos, acácias, tabaqueira, carqueja ou feiteira.

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Foto Miguel Espada/ASPRESS

Raimundo Quintal defende que o pastoreio na Madeira é possível se for realizado em altitudes intermédias, nos terrenos que actualmente estão ocupados por eucaliptos, acácias, cana vieira, tabaqueiras, silvados e outras espécies pirófilas, após a limpeza destas. "O que querem é mais gado na serra, como se as cabras e as ovelhas comessem eucaliptos, acácias, tabaqueira, carqueja ou feiteira", ironiza numa publicação feita hoje, no Facebook.

O geógrafo madeirense considera que "tem havido muito falatório e falta de competência no combate ao fogo desde o primeiro dia", sendo que houve uma melhoria no combate com a vinda dos contingentes das forças especiais de bombeiros e dos dois aviões Canadair.

Quando terminar o fogo, Raimundo Quintal diz ser preciso "um longo e dispendioso trabalho de limpeza e contenção de escarpas e taludes de estradas", dadas as elevadas temperaturas a que foram sujeitos, que levaram à fractura das rochas basálticas. "Com as primeiras chuvas, os riscos de desabamentos (quebradas) e aluviões serão acrescidos", alerta.

O também líder da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal considera que tem de existir coragem política para alterar o coberto vegetal, especialmente entre os 300 e 800 metros de altitude, "onde as espécies invasoras e pirófilas ocuparam antigos terrenos agrícolas e convivem com as habitações. A população também terá de perceber que tem obrigação de limpar os terrenos à volta das casas".

No entanto, o geógrafo aponta que essa mudança está comprometida pelo desejo de colocar gado na serra e lembra que na Serra da Estrela há pastoreio intensivo e arde frequentemente. 

Defendo esta estratégia há muitos anos. Com a criação do Parque Ecológico do Funchal, em 1994, foram retiradas as ovelhas e as cabras, que vagueavam desde os Tornos até ao Pico do Areeiro e foi delimitado um espaço na Ribeira das Cales para pastoreio ordenado de 250 cabeças de gado ovino. A Cooperativa de Criadores de Gado do Monte assinou um protocolo com a Câmara Municipal do Funchal e durante vários anos geriu esse rebanho. Por indisponibilidade dos seus membros, os animais foram comprados pela Secretaria Regional do Ambiente e a cooperativa extinguiu a sua actividade. Porque a mentira só vale, enquanto a verdade não chega, é importante esclarecer que alguns donos de animais (não pastores) recusaram integrar a cooperativa e insistiram no pastoreio selvagem na propriedade municipal. Porque estavam a usar abusivamente uma vasta área vocacionada para a restauração dos ecossistemas e a educação ambiental, foram obrigados sair.  Desde então, jamais deixaram de insultar e ameaçar quem exerceu a autoridade em nome da conservação da Natureza. Raimundo Quintal

Raimundo Quintal indica que "a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal tem um minucioso levantamento dos incêndios rurais / florestais desde o início do século XIX, que desmente cabalmente que quando havia gado na serra não ocorriam incêndios, ou que a frequência seria rara. Mais, há documentos que provam uma ligação estreita entre o pastoreio e os incêndios".

"Ao Senhor Presidente do Governo Regional, à Senhora Secretária da Agricultura e Ambiente e aos líderes partidários que dão guarida a uns indivíduos que sempre se recusaram a cumprir a legislação ordenadora do regime silvopastoril, recomendo o estudo da História e da Geografia da Ilha da Madeira, bem como os excelentes documentos científicos sobre as alterações climáticas", atira.