DNOTICIAS.PT
Artigos

Por todos e para todos

A Madeira está a arder. As catástrofes que afetam a terra, o lugar de pertença de um povo e de uma comunidade, espalham dor, sofrimento e perdas tantas vezes irreparáveis com lutos difíceis e prolongados. A dor de cada um não tem comparativo, tem contexto e tem história e precisa ser aceitada e respeitada. O espetáculo de uma terra a arder é avassalador, a vida pode terminar num tempo rápido e impreciso. A impotência do homem perante as leis de um fenómeno natural, independente das razões que o provocou, torna-nos conscientes do lugar da nossa vulnerabilidade.

A comunidade madeirense é solidária e disponível para abrir as portas de casa e do coração para acarinhar quem precisa. Em 2016, observei e participei em movimentos de ajuda porta a porta, através do Serviço de Psicologia e foi claro o quanto a nossa presença era esperada, valorizada e promotora de segurança. Mais do que as respostas concretas, que viriam depois, a disponibilidade para estar, para ouvir e para continuar presente, abria portas para a esperança e devolvia alguma paz. Nestes tempos de dor e sofrimento as pessoas precisam de pessoas e sim, precisam de alguma paz.

A comunidade afetada está em choque a lutar pela sobrevivência dos seus lugares e das suas coisas, os bombeiros estão exaustos a fazer tudo o que podem e o que a natureza lhes permite, a ajuda de meios que tem chegado é um reforço necessário e natural, num país e numa europa que se pretende ligada e solidária.

O que se espera dos políticos em função, governo, oposição, autarquias e todos os ativos na comunidade é que cada um no seu papel e todos em coligação unam esforços para facilitar a resposta, quer aos bombeiros que estão no terreno quer às pessoas que permanecem ou se viram obrigadas a abandonar os locais onde residem.

Tudo isto está a acontecer. Não vejo nem sinto ninguém alheado das suas responsabilidades, a deixar por desleixo ou desinteresse a Madeira continuar a arder. As equipas estão no terreno, o apoio médico, psicológico e social já definiu as suas estratégias, mais meios de combate aos incêndios também estão a acontecer.

Não tenho dúvidas que deveriam ter já sido pensadas estratégias de prevenção para atenuar as consequências deste tipo de catástrofes ambientais e que a responsabilidade dessas medidas é do governo e da oposição cujo lugar e papel na assembleia é de facto pensar sobre as necessidades da comunidade no sentido da sua proteção e bem-estar. O que não me parece inteligente é que num momento de fragilidade, onde todos os esforços são poucos para pôr fim aos incêndios e trazer alguma paz às populações afetadas e em risco de o ser, surjam discursos inflamados, que independentemente das razões, não chegam no momento certo. Criam ruido, angustiam e desorientam quem precisa de alguma paz e conforto.

Os momentos de crise não são os mais adequados para fazer politica com cheirinho a propaganda eleitoral. Vai haver muito tempo, no tempo e lugar certo para que se debatam até á exaustão este e outros temas fundamentais no desenvolvimento da Madeira. Haverá espaço para apurar responsabilidades e trazer o conceito de prevenção para um lugar de maior destaque nesta e em outras áreas da vida comunitária. O governo e a oposição têm obrigação de procurar as melhores soluções e debaterem de forma inteligente e construtiva todas as questões que considerarem fundamentais para o bem de todos. É por todos e para todos que exercem as suas funções. À política o que é da política.

Agora vamos estar atentos a quem precisa. Os bombeiros já estão a fazer o seu trabalho aliás são eles os soldados da paz e merecem todo o nosso apoio, agradecimento profundo e condições dignas para continuarem a proteger-nos. Seria uma boa política não se esquecerem disso quando tudo voltar à normalidade possível.

Deixo aqui a minha solidariedade com que está a sofrer e o meu agradecimento, a todos sem exceção, que se mantêm no terreno a dar o que podem por quem tanto precisa.