Sindicato dos Jornalistas denuncia pressões e restrições no acesso à informação na cobertura dos incêndios
A delegação da Madeira do Sindicato de Jornalistas denunciou, hoje, um clima de pressões e restrições que estão a prejudicar a atividade dos jornalistas que fazem a cobertura dos incêndios na Madeira. De acordo com nota enviada à imprensa, "as pressões atingem também os responsáveis pelos órgãos de comunicação social que são pressionados a desmentir notícias que depois confirmam-se serem verdadeiras".
O sindicato utiliza como exemplo a notícia do DIÁRIO, em que se dava conta de que tinha sido activado o Mecanismo europeu de Proteção Civil, motivando a vinda de dois aviões Canadair para debelar o fogo. "Após a publicação da notícia, fontes do Governo Regional apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de 'assassinato profissional', como refere o director, Ricardo Miguel Oliveira. Duas horas depois, é o próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, a confirmar a vinda dos dois meios aéreos para a Madeira".
Importa salientar, por isso, que foi emitida uma nota da Direcção do DIÁRIO na quarta-feira, sobre este assunto, que contextualiza melhor o que se passou e que passamos aqui a citar:
- "Face ao ocorrido nas últimas horas, na sequência de duas notícias dadas em primeira mão pelo DIÁRIO, relacionadas com o envio de dois Canadair para combate aos incêndios que duram há uma semana na Madeira, importa sublinhar que:
- 1. Os jornalistas que assinam as duas peças - Rúben Santos e Carolina Rodrigues - basearam-se em factos, num dos casos claramente documentado e com declarações atribuídas.
- 2. Os dois jornalistas foram vítimas de tentativas de assassinato profissional, inclusive por parte de colegas de outros meios de comunicação social, que primeiro apanharam boleia das nossas notícias e depois desmentiram-nas com base em fontes do governo.
- 3. O DIÁRIO sabe quem foi a fonte que quis mostrar serviço e desmentir o que o presidente do governo viria a confirmar e vai denunciá-la às entidades competentes.
Dois Canadair a caminho da Madeira
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Sindicato denuncia outro caso
Além deste caso, é ainda reportado um outro, ocorrido no sábado, em que foi negado o acesso de jornalistas, operadores de imagem e fotojornalistas à freguesia do Curral das Freiras. "Houve indicações claras por parte da PSP para não permitir o acesso da Comunicação Social ao local, sendo que esta dificuldade só foi superada, após vários contactos para que pudessem permitir a passagem dos jornalistas", indica o sindicato.
No comunicado assinado pelo presidente Filipe Gonçalves, o sindicato dá conta de uma situação idêntica, ocorrida no domingo, na Fajã dos Cardos, em que "a equipa de reportagem da RTP Madeira foi a primeira a chegar ao local, por volta das 21h30. Iniciou de imediato o trabalho com a recolha de imagens e depoimentos dos moradores. Depois, chegou a equipa da CNN /TVI que também tratou de recolher informações sobre o incêndio. As duas equipas estavam em locais privados, a falar com moradores e foram obrigadas a abandonar o local. O jornalista da RTP Madeira ainda tentou saber por que motivo teria de abandonar o local e obteve como resposta: «São as ordens que temos de não deixar a comunicação social ficar no local, só os moradores». Os jornalistas da Televisão Pública saíram do local assim que terminaram as entrevistas com os populares, a equipa da CNN/TVI foi escoltada pela PSP".
O SJ afirma não entender a dualidade de critérios na permissão de passagem na estrada encerrada pelos agentes da PSP. "Permitiram um deputado do JPP circular, em ação de campanha, e impediram os jornalistas de passar para exercer a sua atividade: informar", refere a nota à imprensa.
A Delegação da Madeira do Sindicato de Jornalistas entende que é necessário criar um perímetro de segurança para que as operações possam ser feitas com a máxima eficácia. Entende, também, que temos de salvaguardar as vidas, os bens pessoais e patrimoniais e que o jornalista não pode e nunca será um elemento perturbador nas operações de socorro; Sabemos os nossos direitos e deveres, e, em nosso entender, nada justifica estes comportamentos. Não podemos aceitar que o acesso à informação - um dos direitos do jornalista no exercício da actividade - possa ser posto em causa. Também não vamos admitir que os jornalistas sejam alvo de pressões ou ataques à liberdade de informar. Iremos estar muito atentos e não deixaremos que tais situações voltem a repetir-se.
Filie Gonçalves
Por fim, o sindicato apresenta a sua solidariedade para com todos aqueles que estão a sofrer com o drama dos incêndios, bem como uma palavra de coragem para os homens e mulheres que se encontram no combate às chamas.
"Também solidarizamo-nos com todos os camaradas que estão horas a fio a fazer a cobertura dos incêndios e exercem a atividade com brio, profissionalismo e cumprindo o Código Deontológico. Bem hajam", termina.