Mortes pelo calor vão triplicar na Europa até 2100 com atuais políticas
As mortes causadas pelo calor podem triplicar na Europa até 2100, caso se mantenham as políticas climáticas, passando das atuais 43.000 para 128.000 e afetando especialmente países como Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, de acordo com um estudo.
A investigação da revista científica britânica The Lancet Public Health, divulgada na quarta-feira, recolhe dados de 854 cidades europeias e é a primeira análise detalhada dos riscos para a saúde decorrentes das temperaturas extremas na Europa.
O estudo sublinhou a necessidade de "reforçar as políticas para limitar o aquecimento global e proteger as regiões e os membros das sociedades mais vulneráveis" dos efeitos do clima.
Nos últimos anos, a Europa registou alguns dos seus verões mais quentes, o que também resultou em elevadas taxas de mortalidade, especialmente entre os idosos, e prevê-se que o número de pessoas nestas faixas etárias aumente ao longo do tempo, de acordo com o estudo.
Com um aquecimento global de 3°C - com base nas atuais políticas climáticas - o número de mortes relacionadas com temperaturas extremas, frio e calor, que segundo o estudo provocam atualmente 407.538 mortes anualmente na Europa, aumentará até 13,5% neste século, principalmente entre pessoas com mais de 85 anos.
Atualmente, morrem oito vezes mais pessoas de frio do que de calor na Europa, mas a proporção de mortes causadas pelo frio e pelo calor "vai mudar drasticamente durante este século, com um aumento das mortes atribuídas às altas temperaturas em todas as partes da Europa ", frisou Juan Carlos Ciscar, investigador do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia (JRC), em comunicado.
As mortes provocadas pelo calor poderão aumentar das atuais 43.729 para 128.809 até ao final do século.
Em sentido inverso, no mesmo cenário, as mortes atribuídas ao frio poderão ser ligeiramente reduzidas: de 363.809 hoje para 333.703 em 2100.
As regiões do sul da Europa, como Portugal, Espanha, Itália e Grécia, serão as mais atingidas, com um aumento significativo das taxas de mortalidade por calor.
Em Portugal, por exemplo, o estudo projeta, no cenário de um aquecimento global de 3°C, um aumento das mortes por calor de 1.008 para 2.284 por cada 100.000 pessoas até 2100 e um decréscimo das mortes devido ao frio, de 7.345 para 4.682.
Em contraste, países como a Noruega e a Suécia poderão registar um aumento das mortes por frio devido ao crescimento da população idosa, apesar dos declínios globais noutras regiões.
"Há uma necessidade crítica de desenvolver políticas mais específicas para proteger estas áreas e os membros da sociedade mais vulneráveis às temperaturas extremas", frisou o investigador do CCI, David García-León.
Apesar destas projeções alarmantes, os autores do estudo reconhecem limitações, como a possível sobrestimação das mortes porque os dados são baseados em áreas urbanas, onde as temperaturas são muitas vezes mais extremas do que nas áreas rurais e os resultados não têm em conta o género, etnia ou os efeitos nos bebés, que também são vulneráveis a temperaturas extremas.