Fogo continua na Ponta do Sol mas autarca confia em meios para defender casas
O incêndio que lavra na ilha da Madeira há oito dias aumentou de intensidade na Ponta do Sol e deverá prosseguir durante a noite, mas o município indicou que o dispositivo de combate está preparado para defender habitações.
Segundo disse à Lusa cerca das 18:30 a presidente da autarquia, Célia Pessegueiro, o incêndio "evoluiu um bocadinho negativamente" no concelho, uma vez que "por causa da subida pela encosta ao longo da margem da ribeira" da Ponta do Sol, "está a arder sobre duas levadas conhecidas e muito usadas como percursos turísticos, que é Levada Nova e Levada do Moinho".
"Esses percursos já estão encerrados desde domingo à noite, reforçámos ao longo do dia, temos tido pessoal nosso, da câmara municipal, à entrada para não deixar mesmo passar", porque "é extremamente perigoso", pois por cima dessas levadas "já arde com alguma intensidade" e "é uma zona bastante escarpada", explicou a autarca.
A presidente da autarquia contou que esteve no lado oposto da ribeira "para poder ter um campo mais alargado de visão sobre esta área, além de ver a mancha ardida" e assistiu "a derrocadas".
"As pedras com o calor partem-se, desprendem-se, e com elas vem também terra, vem também árvores e, portanto, é totalmente desaconselhado. Não sei, inclusive, pode até já estar a afetar alguma parte do percurso, não das levadas, porque a água continua a passar e essa é a nossa referência, mas no percurso em si pode haver já pontos com alguma insegurança e instabilidade", alertou.
As chamas foram lavrando ao longo da encosta da ribeira e na crista da montanha e foram sendo contidas, usando os caminhos como zona de corta-fogo, mas o incêndio ao final de tarde de terça-feira e durante a noite "acabou por aumentar de intensidade", uma vez que a temperatura não baixou e o vento também aumentou, apesar de não ter grande intensidade e se juntou a outra frente, relatou a autarca.
Assim, a autarca antevê um trabalho árduo na próxima noite, "se não for possível contê-lo na zona onde está", porque "já passou uma zona natural de contenção, que seria o caminho" e poderá subir a encosta e "chegar até às habitações".
"De qualquer das formas são casas que estão junto às estradas e é fácil retirar as pessoas, e é fácil fazer o combate junto às habitações, essa é a nossa margem de segurança, digamos assim, e o que nos dá alguma tranquilidade, porque com muita facilidade socorremos as pessoas", salientou Célia Pessegueiro.
"Além do mais, se isso acontecer, os meios também estão relativamente próximos e, portanto, é muito fácil deslocalizar os meios para cá, para a zona onde estão as pessoas", acrescentou.
De acordo com a presidente da autarquia, o dispositivo inclui os bombeiros da Ribeira Brava e Ponta do Sol, de São Vicente, dos voluntários de Câmara de Lobos e Madeirenses e da força especial, com meios pesados e ligeiros.
"O baixar da temperatura à noite pode fazer abrandar de tal forma que se encontre um ponto de combate, ou até mesmo há zonas onde é possível o contrafogo, e já foi usado", sublinhou a presidente da câmara, mas notando que tudo pode mudar "no espaço de 15 minutos, meia hora".
Por isso, acrescentou, não se espera "que haja margem para qualquer desmobilização ao longo do final da tarde e noite", devendo os trabalhos continuar na quinta-feira.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou há uma semana, dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
Nestes oito dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais.
Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, indicados pelo presidente do Serviço Regional de Proteção Civil, António Nunes, apontam para perto de 4.393 hectares de área ardida até às 12:00 de terça-feira.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, já disse tratar-se de fogo posto.