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Independentista Esquerda Republicana reconhece que há novo ciclo político na Catalunha

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O partido independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) reconheceu ontem que há um "novo ciclo político" na região espanhola que impede um novo governo autonómico separatista, como aconteceu nos últimos 14 anos.

A ERC vai viabilizar um novo governo regional catalão (conhecido como Generalitat) liderado pelo Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Socialista Operátio Espanhol, PSOE), na sequência das eleições autonómicas de 12 de maio passado, confirmou ontem a líder da Esquerda Republicana, Marta Rovira.

A líder da ERC afirmou, numa conferência de imprensa em Barcelona, que o partido avançou para a negociação com os socialistas "entendendo o novo ciclo político" que deixaram as eleições de maio.

Marta Rovira sublinhou que os independentistas tiveram "maus resultados" e que as formações separatistas perderam a maioria absoluta que tinham no parlamento catalão, com a qual garantiram sempre executivos autonómicos independentistas nos últimos 14 anos.

"Negociámos um mandato claro, entendendo o novo ciclo político e procurando um resultado coerente com aquilo que somos. Somos independentistas e somos de esquerda", afirmou Marta Rovira, para justificar a viabilização de um governo socialista.

A líder da ERC explicou que perante a impossibilidade de um governo independentista, o partido optou por negociar e assegurar para a região políticas social-democratas, de esquerda, com foco na justiça social e na melhoria dos serviços públicos.

O acordo com os socialistas prevê também, e sobretudo, uma "soberania fiscal" para a Catalunha, uma questão fundamental para o objetivo final da independência, destacou Marta Rovira.

De fora do acordo ficou uma das bandeiras da ERC durante a campanha eleitoral, a realização de um referendo de autodeterminação na Catalunha, reconhecido pelo Estado espanhol.

Marta Rovira disse que esse objetivo se mantém e que a ERC continuará a lutar pelo referendo e para que, pela mesma "via democrática" seguida nos últimos anos, se criem "as condições para a Catalunha poder decidir sobre o seu futuro político".

Os militantes da ERC deram aval à direção do partido para viabilizar um novo governo na região liderado pelos socialistas, numa "consulta vinculativa" que decorreu hoje.

Segundo os dados divulgados pela ERC, 53,5% dos militantes que votaram (77% do total) disseram "sim" ao acordo.

Ficou assim aberto o caminho para a investidura do líder do PSC, Salvador Illa, como presidente da Generalitat e o regresso ao poder dos socialistas na Catalunha, após 14 anos consecutivos de executivos separatistas na região, que ficaram marcados por uma tentativa de autodeterminação que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.

A ERC, que está atualmente à frente da Generalitat mas ficou em terceiro nas eleições regionais de maio, negociou já com os socialistas do primeiro-ministro Pedro Sánchez, na última legislatura, indultos e uma amnistia para separatistas.

Como os indultos e a amnistia, a questão da "soberania fiscal" para a Catalunha, semelhante à que já existe para o País Basco e Navarra, está a gerar nova polémica em Espanha, incluindo entre dirigentes do PSOE.

O caso basco e navarro reconhece especificidades históricas e é uma exceção dentro das 17 regiões autónomas, sendo considerado pouco ou nada solidário com o resto do país.

A viabilização de um novo governo do PSC tem dividido a ERC, pressionada publicamente, sobretudo, pelo também independentista Juntos pela Catalunha (JxCat, conservador).

O JxCat, do antigo presidente regional Carles Puigdemont, o segundo partido mais votado em 12 de maio, aposta na repetição das eleições e condenou que os republicanos estejam dispostos a dar o poder a "um espanholista".

Salvador Illa, que foi ministro da Saúde de Espanha na pandemia, terá de ser investido presidente da Generalitat numa votação no parlamento autonómico até 26 de agosto, para evitar a repetição das eleições.