Da política com amor
O amor à nossa terra e à nossa gente. O amor às causas que abraçamos
No encerramento do debate sobre o Orçamento, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, consciente da importância daquele documento e do impacto que teria na vida real das pessoas, sentindo a necessidade do envolvimento sério de todos os partidos num consenso responsável que, aliás, havia sido exigido pelos madeirenses, decidi, para além das referências orçamentais específicas, dar outra amplitude e especial emoção à discussão terminando a minha intervenção espontânea a falar do amor. Sim, do amor, “do amor ao povo madeirense, o amor à Madeira, é esse o amor verdadeiro. O amor verdadeiro não é o amor pelo poder, o amor verdadeiro não é um apetite do imediato, o amor verdadeiro é o amor pelo serviço, o amor pela causa pública, esse é o amor que nos move”.
Sei que muitos acharam que era apenas um momento de descontração. Alguns acharam que se tratava de um momento distante, quase poético, de certa forma ingénuo ou até piegas. Para outros terá sido um registo colateral sem grande importância e pouco normal nos políticos convencionais. Não. Puro engano, pois, na verdade, foi, para mim, o momento mais sério, talvez o momento mais impactante e que rompe com aquela dialética política monocórdica, porque a política é também sentimento, é emoção, é instinto, é paixão, é alma, é vida e é amor.
O amor à nossa terra e à nossa gente. O amor às causas que abraçamos. A paixão que colocamos em tudo o que fazemos com determinação, com força e com convicção. O compromisso para além de qualquer outro interesse ou tentação. O amor para além das palavras sem alma que apenas mantêm sobrevivências políticas mortas. Tudo o que se faz com amor tem outro resultado, é genuíno e intenso. Nenhum político se pode desligar das pessoas porque a política não é uma coisa abstrata. Um político desligado é um defunto caricaturado.
O amor é causa e é serviço. O amor não usa, nem abusa. O amor não mantém, liberta. O amor é sublime e humilde, não é narcisista. É de sangue vivo, não azul. O amor sente-se para além de qualquer representação oca. O amor arrisca, sofre e não tem de ganhar, apenas de vencer por existir. O amor que se excede e que regressa depressa. O amor que se preocupa, que se angustia e que não se afasta. O amor que não abandona. O amor dos pequenos gestos. Só vejo a política com amor. Sem amor tudo se perde. O amor que é coragem, que é luta e firmeza. O amor que parte, que quebra, mas que não se verga e nunca morre. O amor na política à luz do legado inspirador de Francisco Sá Carneiro, tantas vezes invocado, mas poucas vezes cumprido. O amor de quem trouxe carácter à política e a abraçou com alma e amor, mesmo disposto a deixá-la por amor. Isso fez dele um Homem pleno. Idealizou toda a sua construção política em função do país. Essa é a construção política verdadeira, a que parte do povo e acaba no povo, sempre com muito sentimento.
Sentimento puro e intenso, superior, que ignora os complexos, os insultos, os preconceitos e as frustrações dos fracos, porque o amor é forte, é bom e faz bem, também na política pura e genuína de quem a abraça com alma e com elevado sentido de responsabilidade institucional. O amor que encanta, que inspira, que honra e que respeita.
Permanecerei assim, na política e na vida. Tudo o que faço, faço com amor. E não tenho qualquer problema em abandonar padrões gastos e paradigmas vencidos. Isso não me faz melhor ou pior, apenas me deixa ser eu, como sou, sem mais nada. Eu e a política apenas. E, se um dia nos separarmos, foi amor e foi por amor. Como diz a canção, “vai ser amor, mesmo não sendo a vida inteira”. Sei guardar o amor. O resto são equações colaterais.