Manifestações juntam venezuelanos pelo mundo contra resultados eleitorais
Várias manifestações de centenas ou dezenas de venezuelanos pelo mundo contestam hoje as recentes eleições no país, que classificam como fraude, numa altura em que o Supremo Tribunal continua os trabalhos de peritagem sobre as atas eleitorais.
Bruxelas, na Bélgica, Sidney, na Austrália, ou Londres, no Reino Unido, foram hoje palco de manifestações de venezuelanos que denunciam uma fraude nas eleições presidenciais de 28 de julho, das quais resultou oficialmente a reeleição de Nicolás Maduro, resultado que a oposição contesta, reivindicando a vitória.
Em Londres, entre 450 e 600 venezuelanos residentes na capital britânica manifestaram-se frente à sua embaixada, no bairro de Chelsea, gritando "Queremos liberdade para a Venezuela e queremo-la agora" e "Edmundo Presidente", em referência ao candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.
Os manifestantes exibiam cópias das atas eleitorais apresentadas pela oposição, que dão 67% dos votos a Edmundo González, mais de 7,3 milhões de votos, e apenas 30% a Nicolás Maduro, que terá conseguido 3,3 milhões de votos, também segundo os opositores.
Os venezuelanos cantaram o seu hino nacional, "Glória ao bravo povo", que tem estrofes como "Gritemos com brio, morte à opressão, compatriotas fiéis, a força é a união".
Também em Sidney dezenas de manifestantes estiveram reunidos no centro, onde cantaram o hino nacional e exibiram cartazes com frases como "Venezuela, quero-te livre" ou "Quero conhecer a Venezuela", como referia o cartaz empunhado por uma criança, entre várias presentes no protesto, algumas envoltas em bandeiras do país sul-americano.
Também o centro de Bruxelas foi palco de uma manifestação de venezuelanos residentes no país em protesto contra os resultados eleitorais anunciados.
"Este Governo tem-nos na pobreza, com pouca liberdade de expressão [...]. Se estivéssemos lá, provavelmente também teríamos sido presos, não podemos dizer que discordamos", disse à EFE Wilmer Veliz, venezuelano da cidade de Valencia que reside em Bruxelas há oito meses.
A oposição venezuelana convocou para hoje manifestações em cidades de todo o mundo para contestar os resultados eleitorais, numa altura em que a Sala Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela continua o trabalho de peritagens em relação às atas eleitorais recolhidas junto das formações políticas concorrentes às presidenciais.
O material está guardado e selado em caixas que apenas podem ser abertas por peritos autorizados. Depois de realizada a análise será elaborado um relatório que deve ser validado pelos dados totais do sistema informático do Conselho Nacional de Eleições.
A equipa de peritos é composta por pessoal nacional e internacional especialista em estatística e informática. Participam ainda observadores nacionais e internacionais e todo o processo de peritagem é supervisionado por juízes da Sala Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça.
A peritagem deverá permitir verificar os danos causados pelo ataque informático ao Conselho Nacional de Eleições.
Após as presidenciais de julho, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos.
A oposição e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.
A Madeira, onde está a maior comunidade luso-venezuelana de Portugal, aderiu hoje a esta "pressão internacional" para seja feita "uma leitura correta das atas de votos", conforme destacou à Lusa um dos organizadores da concentração, com cerca de 60 pessoas.
O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sugeriu na quinta-feira duas saídas possíveis para a crise pós-eleitoral na Venezuela: a formação de um Governo de coligação entre membros do chavismo e da oposição, ou a realização de novas eleições.
Esta última proposta foi rejeitada pela líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, bem como pelo Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que afirmou não considerar "prudente" a convocação de um novo sufrágio.
Portugal é um de 22 países subscritores, a par da União Europeia, de uma declaração que pede a "publicação imediata das atas originais" das eleições presidenciais na Venezuela e a verificação "imparcial" e "independente" dos resultados.