A obediência de um militar tem limites

Numa ditadura que se preze como é o caso do regime venezuelano, o ato eleitoral autorizado e organizado pelo próprio regime teria que ser um simulacro de transparência e de democracia. Nenhum ditador se sujeitaria ao escrutínio popular secreto para perder. Também é natural que na Venezuela a elite das suas Forças Armadas tenha reafirmado a “lealdade absoluta” ao presidente Nicolás Maduro, “mandando às favas” os apelos da oposição para que se colocassem ao lado do Povo. Aqui mostram que são um instrumento fiel de tirania, “agarrados” às promoções e recompensas que lhes permite viver muita acima da restante população.

Ao povo venezuelano resta a esperança que aconteça o que sucedeu por cá, quando um grupo de capitães, na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974, decidiu se libertar do dever e à obediência às hierarquias, porque a obediência de um militar tem limites, quando o conhecimento, a consciência e a responsabilidade proíbem o cumprimento de uma ordem. Se assim não for, acontecerá o que Dietrich Bonhoeffer, membro da resistência alemã antinazi, previu: “O homem que é guiado por deveres acabará servindo ao próprio diabo.”

Eduardo Simões