O avesso da culpa
Um animal morreu, um animal selvagem morreu! Não morreu em liberdade! Morreu domesticado. Onde está a culpa? Onde está a responsabilidade?
Lamento a sua morte. Verdadeiramente. Porque de um ser vivo se tratava. Lamento também um mundo e uma opinião pública, visivelmente, virados do avesso.
Como ficar do lado dos responsáveis pela perda da liberdade de um animal selvagem? Como não ficar horrorizado com o tráfico de animais selvagens? Como não ficar indignado quando um animal, supostamente, selvagem, é levado para um interior de uma casa e tratado como um gato doméstico? O Bores não era um gato! O Bores não era um cão! O Bores não era uma ovelha, nem tão-pouco uma galinha! O seu lugar nunca foi num sofá, nem a passear-se de coleira por um jardim! O Bores devia ser livre! Mas não estava! E agora, não estará mais… porque morreu!
Quanto a mim, o responsável não é o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza! O responsável é quem o privou de liberdade! E todos quantos compactuaram com essa situação, durante, pelo menos, seis anos. Seis anos sem liberdade, tratado como um gato doméstico.
Pelos vistos, para alguns, já não é suficiente ter um gato, um verdadeiro gato. Desses que pululam pelas ruas e pelas serras da Madeira, abandonados… por já não saberem cumprir bem a sua função de “gatos domésticos” para os humanos, por não serem suficientemente “cools” e bonitos para se ter em casa.
E.B.