Madeira – O que temos e o que queremos
É dia
15 de agosto, o verão está no seu apogeu, vive-se o frenesim dos arraiais das
sete senhoras, perdoem-me as outras mas para mim todos os caminhos vão dar à
Festa da Graça no Estreito na Calheta, bem como outras festas e festivais a
decorrer um pouco por toda a região, transbordam as praias, os turistas, o
trânsito e a economia fervilha.
Sente-se a felicidade de uns e o descontentamento de outros. São as dores do
crescimento, vamos dizendo.
A par do investimento público e privado, louvor seja feito a quem ano após ano
tem promovido o destino Madeira, o resultado do trabalho da Secretaria Regional
do Turismo e Cultura e da Associação de Promoção da Madeira está à vista de
todos. Longe vão os tempos em que a Madeira se promovia lá fora como pérola do
atlântico e cujas marcas da região eram as estrelícias, os carros de bois, as
baías do funchal e câmara de lobos, o véu da noiva e pouco mais.
Têm sido dado passos de gigante e que não se caia no erro de afirmar que a
Madeira só vive do turismo e da construção civil porque ainda esta semana,
neste mesmo matutino dava conta da nossa balança comercial positiva pelo sétimo
ano consecutivo, no que toca às transações comerciais com o estrangeiro, com as
exportações bem acima das importações. Não andamos a dormir à sombra da
bananeira nem somos uma região pobre como alguns ineficientes querem fazer
crer.
A taxa de desemprego, está em mínimos históricos e o que mais se houve na rua é
que só não trabalha quem não pode ou quem não quer.
Chegado a este patamar existe porém um grande trabalho a ser feito para se
manter, quer a qualidade do destino turístico, quer a própria qualidade de vida
dos que aqui residem.
Desde logo o problema do trânsito, que terá de ser mitigado não só através do
reforço da rede viária, mas também pelo repensar urgente da rede de transportes
públicos, sobretudo nos concelhos mais distantes do Funchal, onde a Calheta não
é exceção, já aqui disse e torno a referir que o número de carreiras têm de
crescer e servir as deslocações de e para os locais de trabalho de quem reside
e trabalha no concelho. Os novos passes implementados pelo Governo Regional já
são um grande incentivo à utilização dos transportes públicos, mas a nova
concessionária tem de rever a sua estratégia com a mira na prestação de um bom
serviço à nossa população e até a quem nos visita.
Já no que toca ao impacto imobiliário é preciso, cada vez mais, assegurar o seu
crescimento sustentável e harmonioso, que valorize a nossa paisagem sem
destruir a sua identidade.
E a par deste processo é necessário continuar e até se possível reforçar o
apoio à agricultura e aos agricultores no sentido de preservar a nossa paisagem
agrícola que tanto nos caracteriza.
A importância do bordado de Madeira é indiscutível e tem havido a preocupação
para o reinventar e modernizar, mas as notícias sobre a diminuição das
bordadeiras a todos preocupa. É verdade que o Governo Regional tem ajudado
através dos subsídios e formações que atualmente vão sendo dadas junto de
algumas Casas do Povo. Mas não seria possível reforçar estas medidas, fazendo
por exemplo fazer chegar o ensino do bordado de madeira às escolas e os agentes
comerciais não deveriam colaborar mais na retribuição às bordadeiras,
colmatando a diferença entre o valor do trabalho e o preço final de venda do
bordado?
É da responsabilidade de todos pensar nestas e noutras tantas soluções para não
perdermos a nossa identidade cultural e paisagística, aquela que os turistas
procuram, sabendo pois equilibrar o nosso crescimento com a preservação daquele
que é o nosso e de todos, cantinho do céu.