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O destino dos ditadores

Li recentemente um romance famoso de Cixin Liu que me impressionou pela magistralidade na arte de interpretar a natureza humana. Uma das personagens é a figura dum ditador sul americano, chamado à tarefa incomum de urdir um plano para salvar a Humanidade do extermínio por uma civilização extraterrestre, tecnologicamente muito superior.

A ideia de ter um ditador a tentar salvar a Humanidade, já de si é assaz bizarra.

No desenrolar da trama, acaba por descobrir-se que afinal o plano consistia em aniquilar completamente a Humanidade e o sistema solar, numa lógica de “terra queimada”, tão típica duma mente doentia. Afinal de contas, a sacramental frase “se não for para mim, não será para ninguém” é o mantra dos psicopatas.

Mas a genialidade do escritor revela-se no destino dado a este personagem, algo que me levou a refletir sobre o destino de alguns ditadores ao longo da conturbada história humana. Acaba apedrejado pelo seu próprio povo que, acreditava ele piamente, o amava sobre todas as coisas. Um déjà-vu macabro? Ou talvez um eco da realidade. Quantas vezes assistimos, em diversos países e culturas a líderes que se perpetuam no poder, firmemente agarrados à ideia de que são fundamentais, imprescindíveis e estão a cumprir uma missão que só existe nas suas cabeças? Quantas vezes essa sede de poder se traduz em efeitos colaterais devastadores para as pessoas que dizem servir? Quantas vezes mentem, distorcem e matam em nome dessa missão? Quantas vezes destroem o futuro e a esperança de pessoas, famílias, nações inteiras, agarrando-se desesperadamente à crença de serem verdadeiramente “divinos” e especiais? Quantas vezes semeiam a guerra, a fome, a violência e a destruição em nome dum ideal que só existe nas suas cabeças? E quantas vezes essa loucura se espalha pelas hordas enlouquecidas de seguidores, ecos da sua voz e da sua ideologia e se propagam como fogo de verão num pinheiral?

Um ditador muda as regras a meio do jogo e encontra formas engenhosas de se perpetuar no poder. Umas mais descaradas, outras mais discretas, depende muito da qualidade do povo e da estrutura do país, é certo. No final, o ditador só sai do poder de duas formas: morte natural ou revolução, que dependendo do grau de civilização dos povos, pode significar a condenação à morte, a prisão ou o exílio. Assim nos tem ensinado a história ao longo dos tempos.

E é tal a loucura coletiva e a armadilha ideológica que cria – mais uma vez, quando mais frágil é o povo, melhor germina a semente – que há quase sempre um novo ditador, pronto a substituir o anterior, num perpetuar cada vez mais esborratado da realidade. É como um “clone ideológico”, uma cópia da cópia que vai perdendo fragmentos, cada vez que se reproduz, até deixar de fazer qualquer sentido.

Por vezes, os povos têm a sorte de acordar desses pesadelos coletivos e aí, o destino do ditador será sempre a morte às mãos do seu “amado” povo.

E esse é muitas vezes um castigo demasiado pequeno por todo o mal que fez…