A propósito do hipotético parque subterrâneo na Praça do Município

Há quase vinte, quando protagonizei uma candidatura à Câmara do Funchal na equipa liderada por Carlos Pereira, para além do Programa que propúnhamos para a desenvolvimento da cidade, apresentaram-se vários projetos concretos para a transformação da cidade. Foram 3 projetos: a requalificação do passeio marítimo do Funchal e da sua marina; um projeto melhoramentos da estrada Monumental, com alargamento dos passeios e redefinição do tráfego automóvel; e ainda o redesenhar da Praça do Município, retirando os automóveis da superfície, ampliando a praça e os espaços pedonais para as artérias circundantes, fazer uma passagem subterrânea entre a 5 de outubro e a rua Câmara Pestana e construir um parque de estacionamento sob a praça. Nenhum dos projetos era um projeto original. Outros que antes pensaram a cidade já tinham tido ideias semelhantes. Mas, na altura, era nossa vontade iniciar essas transformações da cidade integradas num projeto mais global, com um rumo para a cidade. Os projetos que se apresentaram na altura, há 20 anos, não eram ideias avulsas. O projeto do parque de estacionamento estava ligado à ideia de migrar os serviços técnicos e administrativos municipais para o antigo edifício do matadouro e ali, no Paços do Concelho, construir um museu da cidade deixando ali também as instalações da representação política. Além disso pretendia-se, aos poucos, retirar do centro o estacionamento na superfície, desenvolver novos sistemas de mobilidade e introduzir uma nova dinâmica no comércio do Funchal. No fundo havia todo um conjunto de ideias que davam suporte à construção desse parque que agora tanto se fala.

Porém, para além da forma como o assunto é apresentado, sem qualquer enquadramento estratégico, os tempos são outros, durante 20 anos foram construídos outros estacionamentos na cidade e há novos pensamentos e estudos noutras cidades que aconselham a não entupir mais as cidades com automóveis.

Mas esta Câmara segue a rota das suas antecessoras. Navegando à vista, sem qualquer plano ou ideia de cidade, à mercê do impulso da iniciativa privada e deixando marca através da obra que dê uma boa inauguração com uma mesa de espetada e discursos balofos.

E se em vez de gastarem 15 ou 20 milhões de euros a construir um parque automóvel, se investissem isso num sistema de mobilidade como deve ser, em que os funchalenses e os que nos visitam não sentissem a necessidade de trazer o automóvel para o centro da cidade? E que tal se parassem um pouco para pensar? Há alguém nesta Câmara a pensar a cidade?

Luís Vilhena