Vai haver 20 mil a pedir para que não se abandone os idosos?!

Não vi 20 mil pessoas a assinar uma petição protestando pela morte da Alice, nem pelos idosos que todos os dias são retirados de casa pelas suas famílias e abandonados no Hospital. A protestarem contra quem retira a vida uma criança ou quem é capaz de abandonar um seu progenitor, um avô ou um tio, sem nunca mais ir visitá-lo, sem saber da sua sorte, deixando ao estado a função de filho, neto, sobrinho.

Percebo a emoção (majorada pelas redes sociais e por comentários mais com o coração do que com a razão), mas pergunto às pessoas: estão dispostas igualmente a assinar uma petição que impeça as famílias de deixar os seus familiares mais vulneráveis ao abandono. E não falo apenas do Hospital. Falo de lares onde são colocados sem visitas posterior, falo dos idosos que vivem sozinhos e que têm como única companhia os ajudantes domiciliários que vão lá a casa ou de um vizinho ou vizinha mais generosos.

O “Bores”, o lince-do-deserto, infelizmente, morreu. Com grande pena minha, de quase todos nós.

Mas, as 20 mil pessoas que assinaram a petição (e que pressionaram no sentido de o animal ser devolvido à dona, onde estaria melhor), pararam para pensar se, efetivamente, isso seria o melhor para o animal. Para a família adotante sim, mas para o Bores? Tenho dúvidas, mas vou passar por cima desta questão.

A verdade é que o cerne está no início, na forma como se retiram animais do seu habitat e os transportam para ambientes contranatura. Que os trazem para junto de humanos, domesticando-os contra a sua natureza e afastando-os das suas verdadeiras famílias, dos seus.

Crueldade é, pois, retirar um animal do seu ambiente.

Deveríamos, sim, fazer uma petição contra o contrabando de animais selvagens – ainda por estes dias foi notícia o passeio de um canguru ou a existência de duas pitões numa casa – impedir que este flagelo, esta crueldade continue.

Já agora, o lince, porque era parecido a um gato poderia ser devolvido à família. E o canguru, as cobras, já não? Porque não vi qualquer petição? Também as pitões eram tratadas com muito carinho pelo dono, também eram “pacíficas”.

Mas, nesta questão da petição, há algo que quero colocar a quem a assinou: vamos supor que tudo corria bem e o animal era devolvido à família. Ou melhor, vou mais além e vamos imaginar que o animal nunca tinha sido sequer retirado à família.

Daqui a uns dias, meses, o animal, num momento de identidade, tinha uma ocasião de revolta ou fugia. Invadia as casas vizinhas e magoava uma criança ou um adulto. Ou um outro animal. Poderia até matar. Como é que seria?

Para terminar, há uma terceira questão que me dá que pensar: como é que o animal foi tratado ao longo de todo este tempo? Parece que terá sido por um veterinário. E este não achou por bem informar quem de direito do que se estava a passar?

Ângelo Silva