Procuradoria britânica admite endurecer penas de prisão para manifestantes
Procuradores britânicos afirmaram que os acusados de crimes graves por envolvimento em protestos violentos podem ser condenados a até 10 anos de prisão, passando a ser julgados pelo crime de envolvimento em motim, noticia hoje o The Sunday Times.
O procurador-chefe, Stephen Parkinson, garantiu ao jornal que centenas de manifestantes serão julgados nos próximos dias, após duas semanas de tumultos em diferentes cidades do país, incentivados principalmente por grupos de extrema-direita.
De momento, os distúrbios que se seguiram à morte de três raparigas, uma das quais portuguesa, por esfaqueamento múltiplo em Southport (noroeste de Inglaterra), às mãos de Axel Rudakubana, um jovem galês de pais ruandeses, levaram a quase 800 detenções, das quais 349 pessoas já foram acusadas.
De acordo com Parkinson, os tribunais estão agora a enfrentar uma "nova fase" que prevê a imposição de "acusações mais graves com penas mais severas".
Muitos dos detidos até à data foram acusados de "desordem violenta", que implica uma pena máxima de cinco anos de prisão, mas o Ministério Público está agora a considerar acusá-los de envolvimento em motins, o que pode aumentar a pena até 10 anos.
"Avisámos das consequências e vamos levá-las a cabo. Não se trata de vingança, mas sim de fazer justiça", acrescentou o diretor do Crown Prosecution Service (CPS).
A polícia britânica continua em alerta para a possibilidade de novos atos de violência, depois de o país ter sido assolado por tumultos durante mais de uma semana, quando multidões que gritavam 'slogans' anti-imigração e islamofóbicos atacaram mesquitas, saquearam lojas e entraram em confronto com a polícia.
O governo descreveu os atos como "violência de extrema-direita" e mobilizou 6.000 polícias especialmente treinados para reprimir os distúrbios.
A agitação foi alimentada por ativistas de extrema-direita que utilizaram as redes sociais para espalhar desinformação sobre o ataque à faca de 29 de julho.
A polícia deteve um suspeito de 17 anos. Nas redes sociais, circularam rapidamente rumores, mais tarde desmentidos, de que o suspeito seria um requerente de asilo ou um imigrante muçulmano.
Apesar de, à data do ataque, o suspeito ser menor de idade, a justiça autorizou a divulgação da sua identidade para esclarecer que o jovem é natural do País de Gales e filho de pais ruandeses.
A agitação dissipou-se em grande parte desde quarta-feira à noite, quando uma onda de manifestações de extrema-direita que estava anunciada não se concretizou, depois de milhares de manifestantes pacíficos terem acorrido a locais em todo o Reino Unido para mostrar o seu apoio aos imigrantes e aos requerentes de asilo.