‘Bores’ e a falta de bom senso
Ponto prévio, não sou de nenhuma causa animal, nem pertenço a nenhum movimento radical nem fundamentalista. Sou um cidadão com poucas ligações a animais, mas sou um defensor de uma máxima que muitas vezes faz toda a diferença, o BOM SENSO.
Poderia, o texto que aqui partilho, ter como “motivação” muitos e variados casos onde (infelizmente) tem imperado, na minha perspetiva, a falta de bom senso. Se calhar, por estar de férias, com algum tempo disponível, inusitadamente, acompanhei através das notícias o caso do “Bores”, o lince do deserto que eu nem sabia que habitava a minha ilha. Desconheço por completo a sua história e as motivações dos seus donos… mas para este texto não interessam nada!
Para mim o “lince” surge quando, à luz da lei, tem de ser resgato do seu espaço onde cresceu, onde foi cuidado, tratado e acarinhado pelos seus donos e certamente foi feliz e saudável. Que mais se quer para um animal e para quem, criando as condições físicas e de segurança o quer manter à sua guarda e partilhar com este os mesmos espaços.
Invocou-se a lei, a segurança, o bem-estar animal e a sua (re)introdução num outro meio… resultado, o “Bores”, em poucos dias, deixou a vida terrena.
Que falta de bom senso!
O lince do deserto, um animal (extremamente) “selvagem” que “ninguém” sabia existir à vários anos nesta ilha, perfeitamente enquadrado e adaptado ao seu espaço, saudável, bonito (pelas fotos partilhadas), tratado e cuidado pelos seus donos como um animal doméstico, de repente, pela fria aplicação da lei, no “decurso de um mandado de busca domiciliária, autorizado pelo Ministério Público, foi apreendido pela GNR”. A lei, essa que regulamenta “a proteção de espécies da fauna e selvagens” na Convenção para Prevenção do Tráfico e Comércio de Espécies Selvagens, aplicada por grandes dominadores de leis e de regulamentos que “estabelecem uma lista de espécies animais e vegetais cujo comércio é objeto de restrições ou controlo”, matou o “Bores”.
(Agora) Nada a fazer…
Cumpriu-se cegamente a lei sem perceber que este seria um desfecho previsível para um qualquer animal, com alguns anos, a ser retirado do seu «habitat», nestas mesmas circunstâncias.
Que fique claro que não apoio o desrespeito pela questão legal da introdução de espécies não permitidas na região, nem esta nem outra qualquer lei. Mas o “Bores” era um facto, estava lá, à vários anos, crescido e na minha perspetiva a aplicação da lei, neste caso em particular, tinha ficado (e muito) a ganhar com algum bom senso.
Com o desaparecimento de um excelente exemplar do lince do deserto é altura de… continuar a aplicar a lei. Se por um lado os donos do “Bores” deverão estar a contas com a “lei” quem são as instituições e os responsáveis por todo este “lince”, desde a sua entrada na região até à sua morte? A lei, essa que determinou todo este “enredo”, que terminou de forma trágica para uma vida animal, deverá (também) ter enquadramento legal para repartir responsabilidades com as instituições e responsáveis a todos os níveis, quer sejam nacionais e regionais.
Vou continuar de férias por mais uns dias e terei a oportunidade de aguardar para acompanhar o caso e conhecer quem irá assumir não só as responsabilidades como as consequências das mesmas.
Por falta de bom senso, perdeu-se um excelente exemplar de um lince do deserto e para os seus donos, com os quais estou solidário, certamente, “um membro da família”.
Se o “Bores” continuasse onde era feliz, (tenho a certeza) ainda estaria por cá, saudável, feliz e no seu mundo, junto com os seus donos.
Miguel Andrade