Cruel é tirar os animais do seu habitat selvagem

Gosto muito de animais. Aliás, adoro-os. Tenho e tive vários (desde cães e gatos a pássaros, pombos, coelhos, etc) ao longo da minha vida. Toda a vez que um deles morreu, parecia que o mundo iria desabar-se.

Serve este intróito para dizer que estou solidário com a dor dos donos do “Bores”. E percebo que a generalidade das pessoas tenha sentido pena pela morte do lince do deserto.

Mas, esta pena que tenho pelo triste fim do caracal não me inibe o raciocínio. De ver, sem emoções exacerbadas, o que efetivamente aconteceu.

E o que efetivamente aconteceu foi que o também conhecido por lince-da-persa foi retirado, ilegalmente, do seu habitat, da sua família e trazido até cá, de forma também clandestina, com contornos ainda a explicar.

Não percamos o foco do essencial: estamos perante uma ilegalidade e perante uma crueldade. O cruel, não tenhamos dúvida, não foi só retirar o animal (mesmo que estivesse domesticado, como alegam, o que se já se viu que não é bem assim, a avaliar pela reação feroz que teve perante os veterinários e perante a própria dona, quando o foram buscar ao local onde estava) de um ambiente contra natura para o levar para um zoológico, onde teria a companhia de outros caracais e melhores condições de tratamento. O cruel foi, acima de tudo, retirá-lo, ainda pequeno da sua verdadeira casa!

Tenho lido e ouvido muita coisa. Nas redes sociais, fala-se muito. Apontam-se culpados (normalmente o Governo), mas não se sabe o que aconteceu, ao certo. Ou melhor, sabe-se o que aconteceu, mas não se sabe porquê. Uma necropsia irá, com certeza, esclarecer.

Mas, para além da morte do animal, é preciso serenidade e ter em conta factos reais, verdadeiros, não conspirações ou suposições: o animal foi recolhido da casa da sua dona pela GNR, na sequência de uma queixa feita por alguém que frequentava a moradia e que considerou duas coisas: que não estavam reunidas condições de segurança para quem lá ia nem para quem vivia nas redondezas; que o animal seria muito mais feliz com os seus, do que com humanos que por muito que gostassem dele ao domesticá-lo estavam em contranatura.

A GNR deteve o animal, após mandado passado pelo Ministério Público. E pediu a intervenção do IFCN, para acolhimento do animal e procura de uma solução futura. Foi encontrada. No zoo da Maia!

Depois, foi considerada, pelo IFCN, a possibilidade de devolver, provisoriamente, o animal à família, enquanto se aguardava por uma decisão final do Tribunal.

O animal foi devolvido à família, após esta ter garantido que conseguia condições de transporte e de acompanhamento veterinário. O que falhou vai-se saber!

Mas, termino como comecei: gosto muito de animais, domésticos e selvagens. Amar, gostar é também saber respeitar. E saber o lugar onde cada um deve estar, o lugar a que pertencem!

Ângelo Silva