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Crónicas

O bom, o mau e o madurista

Não será, certamente, coincidência que a revolução no sistema de educação na Madeira aconteça com a consagração da nossa autonomia político-administrativa

O bom: Candidaturas ao ensino superior

Soubemos, esta semana, que a larga maioria (95%) dos alunos que concluíram o 12º ano na Madeira concorreram ao ensino superior. Quase metade desses candidatos escolheu a Universidade da Madeira como primeira opção. Parece do reino da ficção que, há apenas 50 anos, a Madeira registava uma taxa de analfabetismo de cerca de 40% da população adulta. Se quisermos agravar o cenário da educação pré-autonomia, basta acrescentar o parque escolar profundamente desatualizado e a inexistência de qualquer instituição de ensino superior na Madeira. O contraste é chocante. Não será, certamente, coincidência que a revolução no sistema de educação na Madeira aconteça com a consagração da nossa autonomia político-administrativa.

A regionalização da educação foi muito além da mera descentralização administrativa e assumiu-se como trave-mestra do programa político dos primeiros Governos Regionais. “Só através da Educação, isto é, do desenvolvimento harmónico e integral das potencialidades individuais postas consciente e voluntariamente ao serviço da comunidade serão possíveis o progresso e bem-estar sociais”, proclamava o programa do 1º Governo Regional. Quem o escreveu, percebeu que a Educação, nas suas várias dimensões, seria o grande motor da mudança económica e social que se quis fazer na Madeira. Em 2024, o resultado está à vista. A candidatura ao ensino superior é, hoje, uma normalidade. Há 50 anos era uma exceção.

O mau: A morte do Bores

“Os povos e os Estados são e deveriam ser os melhores protetores da sua fauna e flora selvagens.” Começa assim, idílica, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção. É, no mínimo, inquietante, que a convenção feita para garantir a sobrevivência de uma espécie ameaçada tenha acabado por matar o Bores. Há, por isso, duas dimensões para a história do lince do deserto. A do Bores, animal selvagem, em vias de extinção, chegado, não se sabe bem como, a uma pequena ilha no meio do Atlântico e nela transformado em animal doméstico. E a do Estado, encarregue, não só de cumprir a lei, mas de fazê-lo com responsabilidade, transparência e, acima de tudo, com respeito pelo animal. Seja qual for a perspetiva, ninguém fica bem nesta fotografia. Fica mal quem retirou o Bores do seu meio natural para satisfazer a excentricidade bacoca de ter um animal selvagem, pseudo-domesticado, para exibir nas redes sociais. Fica muito mal quem, à conta deste capricho, financia impunemente o negócio abominável do tráfico de animais, esquecendo-se que esta é a principal ameaça à sobrevivência das espécies ameaçadas. Fica ainda pior, o Estado que se permite abrir e fechar um inquérito criminal sem explicação, apreender um animal sem cuidar de saber se teria condições para guardá-lo, confundir um animal em cativeiro há 6 anos com um animal selvagem e acabar por decidir a devolução ao seu dono, não sem antes precipitar-lhe a morte. No final desta história, só há uma vítima: o Bores. Este e todos os outros animais selvagens que são tratados como objetos de luxo, traficados num mercado que só existe porque há quem continue a achar que um lince do deserto está melhor em cativeiro do que em liberdade.

O madurista: Edgar Silva

Maduristas. Putinistas. Efusivos apoiantes de regimes totalitários como o de Fidel Castro em Cuba, Kim-Jong-un na Coreia do Norte ou Xi Jinping na China. É esta, pelo menos desde a queda do Muro de Berlim, a posição do Partido Comunista Português. Não surpreende, por isso, que no dia seguinte às eleições presidenciais da Venezuela, os comunistas portugueses tenham corrido a saudar a vitória de Nicolas Maduro. Já a oposição venezuelana tinha publicado a grande maioria das atas eleitorais, que indicam que Edmundo Gonzalez terá tido quase meio milhão de votos a mais do que Maduro, e o PCP continuava a cantar vitória, justificando-se com a ingerência imperialista na Venezuela e a vitória das forças progressistas, democráticas e patriotas (leia-se, de Maduro). As mesmas forças que, em dez dias, detiveram mais de 2200 venezuelanos e perseguiram, invadiram as casas e prenderam os seus principais opositores políticos. Questionado sobre a posição do seu partido, Edgar Silva remeteu qualquer esclarecimento para Lisboa. Fê-lo com a frieza de quem trata de uma questão administrativa ou um de um pormenor irrelevante. Edgar Silva esquivou-se à questão, como se na Madeira não existisse uma comunidade de milhares de pessoas com familiares na Venezuela e que diariamente sofrem com a incerteza e com a violência que grassa naquele país. Sobre o drama que se vive todos os dias na Venezuela, sobre o atropelo às instituições democráticas, nem uma palavra. Talvez esteja à espera que os camaradas de Lisboa lhe digam o que fazer.