Suspeito de esfaqueamento de crianças em Inglaterra identificado pelo tribunal
O rapaz acusado da morte de três crianças, incluindo uma lusodescendente, por esfaqueamento, numa aula de dança no noroeste de Inglaterra, foi hoje identificado pelo tribunal como Axel Rudakubana, nascido na Grã-Bretanha e de ascendência ruandesa.
O juiz de Liverpool Andrew Menary afirmou que, apesar de não ser adulto, o rapaz pode ser identificado porque fará 18 anos na próxima semana."Continuar a impedir a comunicação completa tem a desvantagem de permitir que outros espalhem desinformação, no vazio", justificou o magistrado, citado pela imprensa local.
O adolescente compareceu hoje no Tribunal de Liverpool sob a acusação de homicídio de três meninas, de 09, 07 e 06 anos, durante o ataque, na segunda-feira passada, na cidade costeira de Southport.
O arguido incorre ainda em 10 acusações de tentativa de homicídio relativamente às oito crianças e dois adultos que ficaram gravemente feridos no ataque, durante uma aula de dança das férias de verão.
A polícia não revelou o motivo do crime, mas as acusações revelam que a alegada arma do crime foi uma faca de cozinha com uma lâmina curva.
O primeiro-ministro, Keir Starmer, convocou hoje os chefes da polícia britânica para uma reunião de crise, devido aos violentos distúrbios que se seguiram ao ataque, pretendendo transmitir a mensagem de que "embora o direito ao protesto pacífico deva ser protegido a todo o custo, os criminosos que exploram esse direito para semear o ódio e realizar atos violentos enfrentarão toda a força da lei", indicou o seu gabinete.
O caso chocou o país, onde o crime com facas é um problema antigo e preocupante, embora os esfaqueamentos em massa sejam raros.
As mortes têm sido utilizadas por acivistas de extrema-direita para alimentar a raiva contra os imigrantes e os muçulmanos - embora neste caso o suspeito não seja imigrante e a sua religião não tenha sido revelada.
Segundo o jornal britânico The Telegraph, o atacante nasceu em Cardiff e é filho de ruandeses.
As vítimas adultas, que se encontravam em estado crítico, eram uma professora que dirigia a aula de dança e um empresário que trabalhava nas proximidades e interveio para proteger as crianças.
Duas das crianças tiveram alta hoje, informou o hospital Alder Hey Children's, que indicou que cinco outras estavam em estado estável no hospital.
Na primeira comparência no Tribunal de Liverpool, o jovem, vestido com um fato de treino cinzento, sorriu brevemente para os jornalistas antes de se sentar na sala de audiências. Depois, puxou a camisola para cima do nariz e manteve a cabeça baixa durante a breve audiência, sempre sem falar.
Nem os pais do atacante nem os familiares das vítimas estavam presentes no tribunal.
Manifestantes de extrema-direita - alimentados, em parte, por desinformação 'online' - realizaram vários protestos violentos, aparentemente em resposta ao ataque, entrando em confronto com a polícia à porta de uma mesquita em Southport, na terça-feira, e provocando distúrbios perto do gabinete do primeiro-ministro em Londres, no dia seguinte, enquanto gritavam "queremos o nosso país de volta".
Segundo a Polícia Metropolitana de Londres, mais de 100 pessoas foram detidas por delitos, incluindo desordem violenta e agressão a um funcionário dos serviços de emergência.
A polícia disse que um nome que circulou nas redes sociais como sendo o do suspeito - espalhado por ativistas de extrema-direita e contas de origem obscura que se faziam passar por organizações de notícias - estava incorreto e negou que fosse um requerente de asilo.
O pior atentado contra crianças na Grã-Bretanha ocorreu em 1996, quando foram mortas a tiro 16 crianças do jardim-de-infância e a sua professora numa escola em Dunblane, na Escócia. Posteriormente, o Reino Unido proibiu a posse privada de quase todas as armas de fogo.
O recente aumento dos crimes com facas veio alimentar a ansiedade e levou a apelos para que o Governo faça mais para reprimir as armas brancas, que são de longe as mais utilizadas nos homicídios no Reino Unido.