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60 anos a promover a leitura sem se perder no tempo

Biblioteca de Santa Cruz assina aniversário e novas conquistas

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A Biblioteca de Santa Cruz celebra 60 anos de existência no dia 16 de Julho com a exposição ‘A Biblioteca é o Universo’. Localizada na Casa da Cultura de Santa Cruz – Quinta do Revoredo, foi a segunda biblioteca fixa a ser criada na Madeira, depois da do Funchal. Há cerca de um mês passou a integrar a Rede Nacional de Bibliotecas, tornando-se a terceira na Região a fazer parte deste grupo. Será realizada uma exposição com alguns dos primeiros livros que habitaram o espaço e outros equipamentos e objectos antigos para assinalar a data.

Inaugurada em 1964, a Biblioteca de Santa Cruz nasceu com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, como nasceram quase todas as outras antigas espalhadas pelo país. Ostentava, então, o número 73 das Bibliotecas Gulbenkian. Em 2002 a Fundação começou o processo de transferência da gestão das suas bibliotecas móveis e fixas para os municípios por forma a garantir a continuidade dos serviços e uma maior integração nas comunidades locais, processo concluído em 2007. Desde então, também por força da transformação do mundo onde se inserem, as bibliotecas tiveram de se reinventar, sentiram a necessidade de evoluir, de passar de depósitos de livros, de espaços abertos onde se requeriam livros de empréstimo para espaços de interacção, a partir de livros, de leituras, de escritores e de outras artes. A de Santa Cruz também evoluiu, contando hoje com o apoio do Serviço Educativo Cultura Santa Cruz que promove actividades ao longo do ano para as escolas e durante as férias para as famílias.

Para fazer parte da rede nacional, as bibliotecas têm cumprir requisitos em termos de livros, têm de estar em rede, com catálogo disponível, ter computadores, sala infanto-juvenil e actividades. Na Madeira apenas as bibliotecas municipais do Funchal e de Câmara de Lobos estão na Rede Nacional.

Com cerca de 20.000 livros, sala de leitura e espaço infanto-juvenil, sem encerramento à hora do almoço, a Biblioteca Municipal de Santa Cruz procura cativar cada vez mais público, sobretudo as crianças, contando presentemente com cerca de 1.400 leitores em sistema, 460 dos quais já com novos cartões.

Além da notícia da integração na rede nacional, pela primeira vez, em muitos anos vai investir em novos títulos, vão receber cerca de 150 novos livros. Nesta data, o Município aproveita para realçar o contributo do Arquivo e Biblioteca da Madeira (ABM), “como casa mãe da rede de bibliotecas regionais tem sido imprescindível no apoio com formação e doação de livros”. Como projectos futuros está a preparar a vertente de bebéteca, tendo já alguns livros que as famílias podem partilhar com os bebés numa visita ao local.

Para assinalar os 60 anos, a Biblioteca realiza uma exposição de homenagem aos livros, às histórias, e às bibliotecas, tendo recuperado um texto de Valter Hugo Mãe sobre estes espaços, em que diz que deviam ser família dos aviões, um lugar de chegar e partir e que continue a cultivar a ideia de que ‘ler é esperar por melhor’. Terá ainda um conjunto de livros “que falam de livros, de bibliotecas, e que se inspiram nessa realidade mágica que é a ficção que expande o nosso mundo, que explica o que nele existe e que imagina o que nele não consta, alargando assim o universo para lá dos seus e dos nossos limites físicos”, convida o Serviço Educativo. As palavras de Valter Hugo Mãe coladas nas paredes do espaço com vista para o mar juntam-se a algumas primeiras edições, parte da riqueza do acervo desta biblioteca municipal. Haverá também cartões antigos, selos e armários para recordar outras vidas, uma exposição que se estenderá até ao fim do Verão.

O título da exposição foi inspirado em Jorge Luís Borges e no conto ‘A Biblioteca de Babel’ . “Eternas e infinitas, as bibliotecas são, para Borges, lugares mágicos ‘e as suas estantes registam todas as possíveis combinações dos vinte e tal símbolos ortográficos, ou seja, tudo o que nos é dado exprimir; em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos’ (…) Ou seja, ‘não há problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução’ não exista na biblioteca”, destacam o Serviço e o referido escritor e ex-bibliotecário. “Borges diz mesmo que, nas suas dinâmicas internas, as bibliotecas hão de sobreviver à nossa espécie e à sua humana condição, porque ‘a biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, incorruptível, secreta.’ E, nesta possibilidade de infinito, ‘a minha solidão alegra-se com esta elegante esperança’”, lê-se também.