Cada um que se governe
Cabe a quem manda fazer o seu, sem demoras, sempre em nome do povo que o sustenta
Há Estado a mais nas nossas vidas. Com efeitos nefastos. Não admira por isso a agonia colectiva sentida na Região desde meados do ano passado. A excessiva dependência do governo, cultivada há décadas pelos arrogantes que agora fingem nada ter a ver com a tormenta instalada, gerou maus hábitos. Deixou muito boa gente impreparada para os novos desafios e sem maturidade para fazer opções sensatas. Deixou outra grande parte viciada na borla e no subsídio, na cunha e no favor, com tempo para a divagação e a intriga, com margem de manobra para gerar ilusões, alimentar ódios e ensaiar o caos. Deixou gente que confunde pagamentos devidos por serviços prestados com apoios a fundo perdido e até informação com propaganda, que reclama de tudo, mas que recusa fazer parte da solução quando confrontada com problemas. Deixou sobretudo uma pesada factura que a maioria entregue a si mesma paga porque a isso é obrigada.
Em 50 anos de democracia, a Região não conseguiu inaugurar em larga escala a responsabilização pessoal por cada acto. E com gente incapaz de administrar a sua própria vida e as suas necessidades com autonomia dificilmente haverá futuro, onde, por sinal, já estão os espertos que se safaram durante este tempo todo. Por isso, importa desencadear um novo ciclo, dando ao popular “cada um que se governe” uma arrojada dimensão, no sentido de melhor percebermos o que vamos exigir a quem por todos deve olhar ou àqueles que, com o executivo, são desafiados a “fazer entendimentos e consensualizar objectivos” de modo a honrar os compromissos assumidos com a população.
Pensem nisso sobretudo os que se iludem com resultados efémeros. Quando prometem o impossível e com tamanha demagogia enganam o eleitorado. Quando mendigam votos e com falsa modéstia juram coerência. Quando são chamados a agir e, ou optam pela inércia culpando terceiros, ou pela marginalização interesseira.
Pensem nisso os que se demoram em engendrar programas avulso, ditados pelas conveniências e pelas circunstâncias, pelas modas e pelos sonhos. A Região precisa de rumo assente em prioridades. Tamanha empreitada faz-se com todos, em diálogo construtivo e sério, tanto mais que nas diversas forças políticas parlamentares há propostas válidas e que prosseguem o interesse público, transversalidade visível no desejo da redução da carga fiscal, no reforço do investimento na saúde, fomento de mais habitação a custos acessíveis, melhoria da mobilidade aérea e marítima, entre outras. Faz-se no tempo que for necessário, mesmo sabendo que um governo de quatro anos acaba por trabalhar efectivamente em apenas três, já que ao mandato devem ser descontados quatro meses de férias, outros tantos para a burocracia e outros quatro para as limitações decorrentes da lei. Um logro. Faz-se sem extremismos que atentam contra a “estabilidade e progresso”. Daí que seja confrangedor constatar a deriva dos que apenas se governam, preferindo acautelar a sua sobrevivência política em vez da inquestionável “defesa intransigente da Autonomia e do seu alargamento, no sentido de dotar a Região dos instrumentos e direitos adequados ao seu desenvolvimento integral”.