Credibilidade de Portugal na NATO fragilizada por falta de investimento
Diplomatas ouvidos pela Lusa consideram que a credibilidade de Portugal dentro da NATO está fragilizada por causa da falta de investimento em Defesa, mas uma reestruturação da sua indústria e antecipação de objetivos poderão reverter esta tendência.
O discurso de Portugal, país que está na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) desde a sua fundação, está fragilizado, reconhecem fontes diplomáticas consultadas pela Lusa.
Por um lado, o país demonstrou sempre disponibilidade para participar em praticamente todas as missões do bloco político-militar e independentemente do Governo o alinhamento com a NATO é absoluto.
Mas Portugal desinvestiu na área da Defesa e não conseguiu acompanhar os objetivos de reinvestimento. Se há uns anos era pedido um máximo 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em Defesa (para equiparar os Estados-membros), agora os 2% são o mínimo exigido e este ano pelo menos 23 dos 32 Estados-membros já ultrapassaram essa percentagem do PIB em investimento em Defesa.
De acordo com uma estimativa feita pela NATO para 2024, Portugal deve ser o sétimo país que menos vai investir em Defesa. Um relatório sobre a previsão de despesa nesta área aponta que o país deverá investir 1,55% este ano.
Em 2023, o investimento foi de 1,48%, abaixo da previsão de 1,64% apontada pelo executivo português.
Portugal só aponta para o final da década, mas o Governo que iniciou funções há menos de seis meses já está no bom caminho, reconheceram à Lusa fontes diplomáticas na NATO.
No final de junho, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou no parlamento que o Governo tem ambição de antecipar o 2% de investimento mínimo em Defesa para 2029 (anteriormente era 2030) e que vai apresentar um "plano credível".
É um esforço para credibilizar Portugal numa altura em que o "discurso já não cola", apontaram as fontes contactadas pela agência Lusa.
Os diplomatas contactados advertiram que o investimento não pode ser feito só pela perspetiva de melhorar as Forças Armadas, mas também aproveitaram o aumento da procura previsível nos próximos anos.
Fontes diplomáticas consideraram que Portugal tem de investir na sua indústria da defesa e estabelecer-se como um polo para o fabrico de equipamentos que serão necessários e requeridos por vários países.
Incentivos fiscais poderão ser um caminho para atrair investimento estrangeiro para fazer crescer a indústria da defesa em território português, apontaram.
Também no final de junho, o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, anunciou que o Governo está a estudar a construção de uma fábrica de munições e que será apresentada ao parlamento "muito em breve".
"É uma das áreas em que sabemos que a União Europeia toda, eu diria o mundo ocidental, é deficitária. A necessidade de se produzirem munições está identificada ao nível do Governo", advogou na altura o governante.