"Abalos eleitorais" nos países da NATO dominam discussões em cimeira
Os "abalos eleitorais" que aconteceram e podem ocorrer em países da Aliança Atlântica obrigaram ao reenquadramento das discussões na cimeira de Washington, para clarificar compromissos e precaver anos imprevisíveis, disseram à Lusa fontes diplomáticas.
A cimeira de Washington, que há uns meses era perspetivada como um momento simbólico para celebrar o 75.º aniversário da organização político-militar, vai ser dominada pelos "abalos eleitorais" que podem ecoar na Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Fontes diplomáticas revelaram à agência Lusa que se antes o objetivo era reforçar compromissos entre todos os países da Aliança Atlântica, a incerteza política vai exigir uma clarificação dos compromissos e mecanismos para impedir retrocessos no apoio à Ucrânia e nas ambições de investimento em defesa.
Vai ser feita uma "análise dos resultados" no Reino Unido, França e também das eleições europeias.
Na quinta-feira, o Partido Trabalhista venceu as eleições parlamentares no Reino Unido, interrompendo um ciclo de 14 anos dos conservados. Se em Londres não há perspetiva de grandes alterações de trajetória no que diz respeito à NATO, em França a previsível vitória da União Nacional, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, preocupa os aliados.
Marine Le Pen é uma voz crítica da NATO e são conhecidas as suas posições favoráveis à Rússia e proximidade ao Kremlin.
Mas o principal tópico de preocupação são as eleições norte-americanas. Fontes diplomáticas no quartel-general da NATO recordaram que a cimeira vai realizar-se uma semana antes da Convenção Republicana, que deverá dar o aval à candidatura de Donald Trump -- um crítico da NATO e das contribuições que os Estados Unidos faziam para a organização, também próximo do Presidente russo, Vladimir Putin.
Os aliados não querem que poucos dias depois da cimeira tenha lugar uma convenção que seja completamente contra o que vai ser decidido entre os 32 países da NATO, pelo que é preciso clarificar os compromissos e reforçá-los para prevalecerem independentemente das alterações políticas em cada país, explicaram as mesmas fontes.
A cimeira era "mais simbólica", contou uma das fontes consultada pela Lusa, mas a perspetiva de um regresso de Donald Trump à Casa Branca, conjugada com um Governo de extrema-direita em França, os bloqueios da Hungria que podem ganhar tração, faz com que a NATO queira uma "declaração mais robusta".
Está excluído qualquer convite para a Ucrânia aderir ao bloco político-militar, mas há uma novidade. É previsível que a declaração final faça não só referência ao apoio inequívoco e enquanto houver necessidade -- que já estava na declaração de 2023 -, mas também haja um acrescentou: o apoio é para que a Ucrânia vença.
É um sinal político, numa altura em que não são esperados grandes anúncios de disponibilização de mais armamento para a Ucrânia. Os Estados Unidos podem anunciar mais sistemas de defesa antiaérea MIM-104 Patriot, mas o anúncio, a acontecer em Washington, continua envolto em segredo.
Também vai ser uma cimeira de estreias, mas sobretudo de ausências. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não vai participar na reunião, que acontece poucos dias antes da votação em Estrasburgo do seu nome para presidir ao executivo comunitário mais cinco anos.
As negociações europeias afastam von der Leyen da cimeira da NATO, assim como o ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, que vai ser o próximo secretário-geral da NATO, mas não vai estar presente na cimeira.
É também a última cimeira da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, enquanto líder do Governo, já que vai assumir a pasta de chefe da diplomacia europeia até 2029. Kaja Kallas chegou a ser considerada para secretária-geral da NATO e sempre foi uma das vozes mais defensoras do apoio à Ucrânia.
Também vai ser nomeado, por proposta do secretário-geral cessante, Jens Stoltenberg, um "representante sénior" da NATO para a Ucrânia. Vários países apresentaram potenciais candidatos, mas ainda não há consenso.
Este oficial sénior, explicaram as fontes contactadas, tem de ser uma pessoa com capital político e "credível" dentro e fora da NATO. Terá o propósito de melhorar a coordenação entre Kiev e a Aliança Atlântica.