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Resgatar a Europa

A Europa é, hoje, parte intrínseca e incontornável de qualquer reflexão sobre a nossa sociedade e a nossa política, facto que resulta da evidência, também ela incontornável, de que o que se passa na Região e no país é, em larga escala, o produto das análises e das decisões que são feitas e tomadas em Bruxelas por políticos e todo um aparato burocrático que são, na sua esmagadora maioria, desconhecidos do cidadão comum. Assim, quer queiramos ou não, e quer gostemos ou não, é imperativo pensar sobre o rumo que a Europa tem vindo a tomar.

Na linha desse pensamento e também fruto dele, chegamos à conclusão de que, neste momento, estão em confronto duas visões diferentes e irreconciliáveis da Europa. Porque cada uma acarreta consequências profundas para vida dos cidadãos, para a integridade dos estados e para a sobrevivência da nossa civilização, é da maior relevância que os cidadãos europeus, em especial aqueles que ainda acreditam nos ideais e valores que inspiraram a génese do projecto europeu, percebam as duas noções que hoje se confrontam e trabalhem em prol daquela que mais os representa.

A primeira noção é a de uma Europa de nações, na qual a independência, o percurso e as especificidades dos países são respeitados e onde a colaboração entre os estados existe, mas nunca se sobrepõe ao inegável e inesgotável princípio de que os povos são senhores do seu próprio destino. Esta é a Europa da Liberdade, do respeito e do livre-arbítrio, onde não existem dúvidas sobre os princípios que nos movem, nem negociações quanto os valores que nos enformam, nem debates estéreis quanto à nossa identidade milenar. Esta é, em suma, a Europa do legado grego-romano-cristão, que herdou dos gregos o primado da Razão, da Beleza e da Verdade sobre o instinto, que recebeu dos romanos a organização e a ordem e que absorveu do cristianismo o valor infinito da Vida, da Família (como unidade primordial de humanização) e da crença num só Deus transcendente, entendido como o início e o fim de todo o nosso percurso.

A segunda noção é a de uma Europa como uma federação, na qual são apagadas as diversas nações como entidades com integridade própria, vontade própria e aspectos históricos e culturais que as distinguem entre si, para serem substituídas por uma triste amálgama de súbditos desenraizados, sem referências e sem passado, que são movidos a partir de Bruxelas por longos cordéis que são controlados pelos interesses económicos dominantes. Esta é a Europa onde tudo tem preço, mas nada tem a valor. A Europa onde tudo se integra na aparência, mas desintegra-se rapidamente e a olhos visto na ausência de substância. A Europa onde a Vida não tem valor, onde a morte não tem consequência e onde a Liberdade é subalternizada na face do pensamento absurdo, de conceitos de beleza ilógicos e do politicamente correcto que nivela, sempre por baixo, o pensamento crítico e a iniciativa pessoal.

Nesta Europa, que tem encontrado em partidos como o Bloco, o PS, o PSD e a IL os seus defensores, a liberdade não é aquela que corresponde ao espírito e à letra das intenções dos fundadores do projecto europeu, mas sim uma que traduz o desejo velado de substituir a auto-determinação dos estados por uma tutelagem constante e acérrima a partir de Bruxelas. De igual forma, nesta Europa, que tem encontrado em políticos como von der Leyen os seus representantes máximos, os valores não são os que inspiraram o sonho europeu, mas sim as noções grotescas do pós-modernismo ‘woke’, que não são mais do que anti-valores que se opõem diametralmente aos fundamentos basilares da Europa, segundo os quais a esmagadora maioria dos actuais europeus ainda foi educada.

À medida que esta infeliz Europa – travestida de ideais e metamorfoseada de princípios – vai avançando e ganhando terreno, fica cada vez mais clara a ruína da classe média pela avidez bancária, a destruição da agricultura e das pescas pela transição climática, a eliminação do tecido industrial pelo custo das energias alternativas, a perseguição à Fé pela islamização descontrolada e a exterminação das famílias pelo lixo ideológico que é forçado às crianças, aos adolescentes e aos jovens adultos nas escolas, nos canais de comunicação manobrados pelos mestres do negócio e a cada esquina das cidades. Tudo isto vai deixando para trás um funesto rasto de liquidação total de pessoas, sentimentos e noções básica sobre a humanidade e para a humanidade ao qual não podemos continuar a assistir sem reagir.

Assim, cabe-nos abraçar, com determinação e sentido de urgência, a missão de repor a Europa que existia antes da inflexão degenerativa que tem vindo a transformar uma civilização orgulhosa, rica, segura de si mesma e respeitadora da liberdade e da auto-determinação das nações que lhe dão corpo num bloco apático e desconexo, que perde competitividade, identidade e influência a cada momento que passa. O preço da inacção será demasiado severo, pois significará a perda, para as areais da História, de uma civilização incomparável. Hoje, tanto quanto no início do projecto europeu, há uma Europa que tem de ser ganha, e, para tal, temos de regatá-la do desastre para o qual estamos a ser violentamente empurrados.