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De apeadeiro em apeadeiro até ao destino final

Não sei onde vai ficar o novo Aeroporto de Lisboa, porque ainda não acredito na solução atual, mas sei que o apeadeiro da Portela está cada vez pior. É um sufoco ser afunilado para um terminal de gado, neste caso o 2, onde os passageiros parecem vir naqueles camiões em que antigamente via as vacas em direção à Rua do Matadouro. Passei pela cave, pela revista habitual, onde a mulher da segurança não vê a luz do dia, mas pelas malas molhadas e roupas encharcadas percebeu que estava a chover. Realmente, chovia a potes, mas o que são cem passos até um avião parado no outro lado do curral? Descobri nesse dia o que era passar pelos pingos da chuva, porque logo que me sentei no avião, voltou a cair uma carga de água…

Encontrar um lugar livre no terminal tinha sido uma aventura. Ir à casa de banho, nem vos conto. Aterrei em Amesterdão umas horas depois, onde em pleno aeroporto um Uber demorou mais de meia hora a chegar. No hotel, um 4 estrelas onde íamos ficar sete pessoas hospedadas, tínhamos reservado três duplos e um single, mas a rececionista com cara de meia noite, a bocejar, lá explicou que por ter feito o upgrade para dois quádruplos, um triplo e mantido o single, não tínhamos de pagar mais. É verdade, mas também não precisávamos de ter camas suficientes para o onze da seleção nacional e os colchões não precisavam ser tão moles que me apeteceu dormir no chão.

Não lhe vi um único sorriso. Nem a ela, nem a nenhum dos rececionistas que encontrei no dia seguinte, que pareciam saídos do Museu da Madame Tussauds de Amesterdão, mas assim poupei a entrada no Museu.

Roterdão, no dia seguinte, não foi melhor. O Uber só demorou 40 minutos a chegar, porque escasseiam na cidade onde as bicicletas e os transportes públicos são um sininho, mas percebi que os desgraçados que estavam na receção do hotel eram fugitivos do Museu e ainda andam à procura deles. A verdade é que se eu tivesse de falar aquela língua para sobreviver também ficava com aquela cara. Até os entendo.

Voltámos a Lisboa pelo Aeroporto dividido com a cidade de Haia. Uma infraestrutura tipo Porto Santo, mas com muito mais aviões, logo, mais um apeadeiro. Aterrei na capital do império luso, no Terminal 1, com a sensação de estar no Metro quando saí nas chegadas. Ainda procurei ouvir a voz que dizia onde era a próxima estação, mas não consegui. Estava já ansiosa porque no dia seguinte ia voltar a enfiar-me no terminal de mamíferos um bocadinho melhor, que é o Terminal 1 e a pensar porque é que andamos há mais de 200 anos a dar cartas no turismo.

Voltar à Madeira é cada vez mais a certeza de que sabemos aproveitar o que de melhor temos: uma indústria hoteleira e serviços que fazem os turistas desejarem voltar várias vezes. E receber lembranças por isso. E repetir hotéis, onde são considerados família. E trazer filhos que depois trazem os próprios filhos, ao longo de gerações. É bom sair, acreditem, mas sabe cada vez mais voltar.