Banqueiros centrais não abrem o jogo mas corte em setembro está "em aberto"
Os principais decisores de política monetária do mundo juntaram-se mais um ano em Sintra no Fórum do Banco Central Europeu, por três dias, para discutir as lições do passado e os próximos passos, mas foram cautelosos quanto ao futuro.
"Tanto a presidente do BCE, Christine Lagarde, como Powell da Reserva Federal preferiram não abrir muito o jogo relativamente às decisões dos próximos meses", salientou à Lusa Ricardo Amaro, analista da Oxford Economics.
"Ainda assim, Lagarde deixou algumas pistas, confirmando que não haverá corte das taxas de juro este mês, em linha com as expectativas do mercado", notou.
Para o analista, "setembro continua em aberto, mas como esperado, Lagarde continua cautelosa, assinalando a persistência da inflação na componente dos serviços", sendo que se registou uma inflação de 4,1% nesta componente em junho, "com a evolução desta componente em julho e agosto muito importante para um eventual corte dos juros em setembro".
"Na Oxford Economics, esperamos corte dos juros em setembro e também em dezembro, os mercados estão neste momento divididos relativamente à decisão de setembro", avançou Ricardo Amaro.
Já Rune Thyge Johansen, analista do Danske Bank, salientou numa nota de análise que "com a inflação a permanecer persistente e as economias a lidarem bem com as políticas atuais, é provável que ambos adiem quaisquer cortes nas taxas até que mais dados estejam disponíveis", sendo que o banco perspetiva que "a Fed realize o primeiro corte nas taxas em setembro e o BCE em dezembro".
O Banco Central Europeu (BCE) já avançou com um corte de juros, em junho, mas a presidente Christine Lagarde não se quis comprometer com um calendário para as próximas decisões. Apesar de admitir que o processo de desinflação já está "avançado", apontou que ainda há "muito trabalho pela frente" e que é necessário manterem-se vigilantes.
Lagarde "sublinhou na segunda-feira a abordagem cautelosa do BCE relativamente a novos cortes nas taxas de juro", notou Vítor Madeira, analista da Xtb, em declarações à Lusa.
"O atual mercado de trabalho da Zona Euro permanece forte, o que significa que o BCE poderá levar mais tempo a recolher novos dados e adiar temporariamente novos cortes", disse.
Já nos EUA, a Reserva Federal ainda não avançou com um corte de juros, tendo mantido as taxas diretoras inalteradas por sete reuniões consecutivas.
No Fórum do BCE, "Jerome Powell salientou que a Fed pode levar o seu tempo a garantir que a inflação se aproxima do objetivo, mas também observou que uma deterioração acentuada no mercado de trabalho poderia levar a alguma ação nessa matéria de forma automática", destacou Vítor Madeira.
Apesar de não se comprometer com futuros cortes, apontou que "provavelmente a inflação já atingiu o pico e que a mesma pode regressar aos 2% já no final do próximo ano ou início do seguinte".
Quanto às reações a esta conferência, "inicialmente as declarações dos responsáveis não tiveram grande impacto nos mercados", admitiu o analista da Xtb, mas "as valorizações aconteceram posteriormente com a deterioração dos dados macroeconómicos".
"Assim, os principais índices acionistas continuam a tendência altista e os mercados reagiram com grandes valorizações nos últimos dias, fruto dos dados macroeconómicos mais fracos que podem impulsionar as reduções nas taxas de juro", concluiu.