Fintar a desigualdade e acabar com o “baixa os calções e prova que és rapariga”
Na rubrica DIÁRIO-Desporto, Ana Rodrigues, psicóloga desportiva que passou por vários clubes na Região, abordou as inúmeras queixas e adversidades que as jogadoras de futebol ainda enfrentam
Antes de enveredar pela vida profissional, Ana Rodrigues foi atleta durante vários anos tendo praticado natação, basquetebol, ginástica aeróbica e, por fim, andebol, onde desempenhou também a função de árbitra e treinadora.
Enquanto criança a sua vontade não
era praticar nenhuma das modalidades em cima mencionadas, mas sim futebol, onde
na escola lhe reconheciam alguma competência, mas o pai não aceitou e sugeriu
que deveria optar por ‘desportos mais femininos’.
A psicóloga que actua na área do Desporto não se intitulava de activista “até
ao momento que alguém disse que lutava pelos direitos das mulheres e que tinha
de levar essa voz mais longe”.
Na entrevista concedida ao DIÁRIO, Ana Rodrigues recordou que ao longo do seu percurso
enquanto atleta passou por situações que não quer que “mais nenhuma menina
passe”, desde a recusa ao futebol, comentários ao seu aspecto físico, até ao
assédio sexual que sofreu por parte de um treinador.
Acabei num desporto em que havia contacto físico, onde tive um treinador que achou que podia usufruir da sua autoridade para invadir o meu espaço pessoal. Não quero que mais nenhuma menina passe por isto. Elas podem escolher e merecem ter as condições para serem melhores no desporto que escolherem e que as apaixona.
Quanto ao futebol, referiu que ainda em crianças enfrentam logo uma série de entraves só de pensar em entrar neste contexto desportivo, que se iniciam "ainda no seio familiar, porque não há vontade, nem o fornecimento de condições para que entrem em desportos ditos masculinos”.
Ao longo da sua passagem por vários clubes da Região, já como psicóloga, admitiu
que eram inúmeras as queixas que chegavam ao seu gabinete desde os constantes
comentários ao físico das jogadoras, “a comentários mais sexuais vindos de
dirigentes, treinadores e da bancada”, onde durante os jogos é muito comum
ouvir que aquele não é lugar para mulheres.
“São chamadas de ‘maria-rapaz’, ouvem habitualmente que deviam estar a lavar pratos ou na cozinha, até aos comentários ao aspecto físico e orientação sexual, chegando ao ponto de quando uma atleta se destaca pedirem para baixar os calções para poder provar que é uma rapariga”.
Motivada pela sua história pessoal e o ambiente profissional que a rodeia, Ana Rodrigues decidiu escrever o livro intitulado de ‘Maria-Rapaz’ que que tem como principal objectivo promover a Igualdade de Género, em duas ideias base.
“Primeiro que somos seres completos e podemos desenvolver vários contextos ao mesmo tempo e na sua máxima potencialidade. Em segundo, não deixar que ninguém faça o caminho sozinho. Se alguém ainda não tem os seus direitos garantidos, seja homem ou mulher, que possamos dar a mão e fazer o caminho juntos”.