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Fact Check Madeira

Tem a Madeira uma esperança de vida superior à do País?

Entre 2020 e 2023, a covid-19 teve grande impacto nos números da esperança de vida.
Entre 2020 e 2023, a covid-19 teve grande impacto nos números da esperança de vida., Foto Arquivo/ASPRESS

Foi no seu discurso no âmbito das comemorações do aniversário da freguesia de Machico que Pedro Ramos, entre a enumeração da ‘obra feita’ no concelho actualmente liderado pelos socialistas e as críticas às opções seguidas pelo governo PS na República, que dizia terem conduzido ao estado actual do Serviço Nacional de Saúde (SNS), colocou o Serviço de Saúde da Região (SESARAM) acima de todos os outros.

Nessa abordagem, sempre com um tom incisivo, o governante com a pasta da Saúde e da Protecção Civil no Executivo madeirense, referiu-se à “esperança de vida”, dizendo que na Madeira a mesma era superior. Mas será mesmo assim? É isso que vamos aqui procurar esclarecer.

Na sua intervenção, em terra de socialistas, Pedro Ramos focou a situação política que tem condicionado o presente da Madeira, chamando “todos” à responsabilidade no que toca ao futuro da Região, elencando as várias medidas, que no seu entender, estão suspensas ou não serão implementadas devido ao impasse na aprovação do Programa de Governo e do Orçamento e ao regime de duodécimos a que a Região tem estado sujeita. “Sem orçamento não há investimento” e, no caso da saúde, “será dramático”, disse o governante, veiculando aquelas que têm sido as premissas defendidas pelo Executivo de Miguel Albuquerque.

Numa das suas afirmações, num contexto em que estabelecia uma comparação entre a Madeira e o continente, com enfoque nos respectivos serviços de saúde, depois de ter apontado que 81% dos doentes oncológicos do SNS foram tratados fora de tempo, o governante apontou a supremacia do SESARAM em relação ao Serviço de Saúde Nacional como factor determinante para que, na Região, tivéssemos “mais esperança de vida”.

É bom poder constatar que fizemos um caminho diferente, para bem da população e por respeito pela mesma. E por isso temos mais saúde e mais socorro com qualidade e com segurança; e por isso temos mais esperança de vida e mais sobrevivência; resolvemos as situações urgentes e emergentes com mais sucesso, com mais integração de cuidados e acompanhando melhor as doenças crónicas. Pedro Ramos, secretário regional de Saúde e Protecção Civil

É certo que esta afirmação surge num contexto de saúde/doença e respectivo impacto dos tratamentos disponibilizados, podendo dizer respeito à sobrevida da doença oncológica, ainda assim, importa esclarecer se, no geral da análise estatística, a Madeira goza de uma esperança de vida à nascença superior à do País.

No âmbito específico da sobrevida da doença oncológica, os dados tornados públicos pelas entidades regionais não nos permitem destrinçar qual a realidade madeirense nos últimos anos, contrariamente ao que acontece em território continental, onde, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), na monitorização feita sobre estas matérias, tem divulgado os dados do Serviço Nacional de Saúde, referentes a 2023. Devemos referir, contudo, que, em 2019, por exemplo, a Madeira estava ligeiramente melhor no que a este indicador diz respeito.

Mas foquemos a nossa verificação na interpretação que as palavras do governante terão originado, na sequência da sua associação à esperança de vida à nascença.

Crise política regional não passou ao lado das comemorações do dia da freguesia de Machico | Diário das Freguesias

A situação política que condiciona o presente da Madeira foi um dos assuntos em destaque na intervenção de Pedro Ramos, nas celebrações do dia da freguesia […]

De acordo com os dados veiculados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), muitos deles com base na informação disponibilizada pela Direcção Regional de Estatística (DREM), podemos notar que a esperança média de vida à nascença, em Portugal, no triénio 2020-2022, era de 80,96 anos, sendo de 78,05 anos para os homens e de 83,52 para as mulheres. Estes números correspondem a um ligeiro decréscimo em relação ao triénio anterior, 2019-2021, em resultado, ainda, do aumento do número de óbitos no contexto da pandemia da covid-19.

Por regiões (NUTS II), no triénio 2020-2022, a esperança de vida à nascença mais elevada registou-se na região Norte, para o total da população (81,53 anos), para os homens (78,74 anos) e para as mulheres (84,02 anos). Em contrapartida, “as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores foram aquelas onde se observaram valores mais baixos, tanto para o total da população (respectivamente, 78,77 e 78,04 anos), como para homens e mulheres”, refere o INE.

As maiores diferenças de longevidade entre homens e mulheres no período 2020-2022 registaram-se, precisamente, nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, onde as mulheres podem esperar viver, em média, respectivamente, mais 6,94 e 6,58 anos do que os homens.

Historicamente, desde 2010, a Madeira tem sido sistematicamente, a segunda pior região do País em relação a este indicador, surgindo só à frente dos Açores, que têm assumido a pior posição no todo nacional. E foi no triénio 2010-2012 que, a nível regional, se registou a esperança de vida à nascença mais baixa dos últimos 13 anos, sendo que a mais alta foi registada no triénio 2020-2022.

A constatação dessa diferença levou, inclusive, o CDS/PP-Madeira, no âmbito da campanha eleitoral para as Regionais antecipadas de 26 de Maio último, a propor, no conjunto das medidas que contavam implementar se fossem governo, a redução da idade da reforma em dois anos para os residentes na Madeira, comparativamente ao vigente a nível nacional, actualmente fixada nos 66 anos e quatro meses.

Da análise de todos estes dados, podemos concluir que a esperança de vida à nascença na Madeira, entre 2010 e 2022, tem sido sempre inferior à média verificada a nível nacional, bem como inferior a quase todas as regiões do País, com excepção dos Açores.

Devemos, por isso, considerar falsa a interpretação de que a esperança de vida à nascença na Madeira é superior à do País ou às demais regiões nacionais.

A esperança de vida à nascença é mais elevada na Madeira do que no resto do País. - Esta foi uma das interpretações resultantes das palavras de Pedro Ramos, na sua intervenção, no aniversário da freguesia de Machico.