A sopa de Albuquerque
Nas últimas semanas acumulam-se avisos; artigos; notícias de tsunamis, erupções explosivas com emissão de piroclastos; tempestades apocalípticas e demais impactos de asteroides no minúsculo arquipélago da Madeira.
À luz da geopolítica paroquial todo este desfile de horrores pode, porém, não suceder, se o orçamento da RAM (ORAM) for viabilizado na Assembleia Legislativa Regional (ALRAM) esta tarde.
Ou seja, Albuquerque protegido e imune no seu castro afunilado, desde o alto do seu pedestal de barro, não é comedido na sua bíblica fasquia: ou “EU”, ou o CAOS.
Em uníssono variadíssimos quadrantes da vida associativa com uma comunicação social genericamente coincidente, reproduzem o desespero, e compõem o ramalhete do alarme social. Até o epicospado funchalense acusa a extenuante fadiga de eleições, a que só faltou comparar com as excruciantes estações da Via Sacra. Essas forças vivas da sociedade, empunhando militantemente a bandeira da subsidiodependência, exortam à responsabilidade da oposição, para que esta deixe de ser ela própria, endossando um cheque em branco a um punhado de intenções a um programa alheio, e em suma a trair o seu eleitorado. Ou seja, o drama parece não ser um presidente do governo constituído arguido. Parece ser uma irresponsável teimosia da oposição.
No momento desta escrita, desconheço qual o desenrolar da cosmética programática e orçamental operada numa sala da sede do Governo Regional, longe dos eleitores e por entre palavras enigmáticas, essas sim, que me provocam cansaço e desilusão. Os três dias de debate de há umas semanas, foram uma dispendiosa opereta bufa, para depois o desacreditado governo retirar o documento, e se furtar ao óbvio e justo chumbo.
Albuquerque joga a sua sobrevivência política e a proteção que goza da imunidade, fazendo irresponsavelmente refém o seu partido e toda a Região. O partido de Ventura na Madeira tem perdido capital político, sobretudo quando diz fazer do combate à corrupção a sua bandeira, mas, depois presta-se, entre ambíguas frases a se sentar com um governo, que apesar de ter sido sufragado nas urnas, o seu líder não tem número nem credibilidade suficiente para vingar.
Numa democracia nórdica a ética ao serviço público, jamais pactuaria com estes enredos de cordel e de negociatas operadas por detrás do cortinado.
O PSD foi o mais votado? Tem o apoio do CDS que mantém a presidência da ALRAM sequestrada? O PAN descobriu outra semântica ao étimo arguido desde janeiro? O IL vai abster-se de forma violenta? Se o CHEGA honrar os cartazes que nos mostrou pela ilha, os sociais-democratas que recolham todos esses votos, e façam uma sopinha aguada. Adia a fome e alonga o tempo.