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Autonomia de Equilíbrios

Para as futuras gerações o legado terá de ser, inevitavelmente, uma Autonomia aprofundada que se traduza numa transformação efetiva

Escrever no início do mês de julho sem se referir a Autonomia Política conquistada pelo povo madeirense em 1976, equivale a ir a Roma e não ver o papa. Lembrar este feito torna-se essencial para que as novas gerações se consciencializem de que esta é uma história inacabada e, como tal, deve ser aprofundada e exercida diariamente.

A Autonomia não é – nem nunca foi – sobre quem grita mais alto, mais fala ou mais agita a bandeira de uma Região Autónoma. A Autonomia trata de um desígnio comum sobre as diferentes áreas da governação que envolve pessoas, sejam eles estudantes, jovens adultos, população em idade ativa ou reformados. A Autonomia é muito mais do que uma corrente política. É, acima de tudo, uma forma de estar e pensar a vida que respeita ideias, valores, projetos e assenta na Liberdade individual não compaginável com agendas ocultas ou interesses pessoais. Uma agenda do fazer e não apenas do pensar.

A Autonomia é um propósito em si mesmo, independentemente das circunstâncias que nos conduzem a tomar determinadas decisões em cada momento. Propósito esse a que é difícil corresponder quando a decorrência quotidiana torna árduo o exercício da palavra dada noutras ocasiões, sejam elas de ambições individuais e/ou coletivas. É respeitar uma identidade, um rumo e um caminho. Um Autonomista é aquele de quem se sabe com o que contar.

Nestes termos, espanta-nos como muitos ziguezagueiam nas suas convicções em busca de um lugar ao sol, ou do dividendo eleitoral. Dizer tudo e o seu contrário parece traduzir hoje a melhor receita para o sucesso. Esquecendo de onde se veio, de quem nos apoiou e de respeitar a palavra dada. Talvez, por isso, ao longo de quase cinco décadas, a oposição madeirense não logrou alcançar o feito de liderar um Governo Regional, pois em nenhum momento foi verdadeiramente autonomista. Pensou sempre mais em si do que na Madeira.

Naturalmente, serão necessários equilíbrios que correspondem aos limites entre a Autonomia e a independência, sem desrespeitar a vontade de um Povo que procura, evidentemente, resposta aos seus legítimos anseios. Diariamente nos empenhamos nesse propósito, pois ser autonomista consiste numa busca incessante da melhoria das condições de vida. Seja de uma instituição, de uma Região ou de um país.

Para as futuras gerações o legado terá de ser, inevitavelmente, uma Autonomia aprofundada que se traduza numa transformação efetiva – à sua escala e no respetivo tempo – da vida dos madeirenses e porto-santenses. Seja no acesso à educação, no desenvolvimento das carreiras profissionais, nos cuidados de saúde mental ou no acesso ao mercado de trabalho, o essencial é que esta Autonomia surja como instrumento de transformação do projeto de vida de todos aqueles que vivem na Madeira, tal como o foi no passado. Nunca contra ninguém, ou pela negativa, mas sempre pelo futuro da Madeira.