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Portugueses temem que protestos se prolonguem e afectem o dia-a-dia

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Foto EPA

Vários portugueses disseram hoje à Lusa temer que os protestos nas ruas de várias cidades venezuelanas, contestando os resultados oficiais das presidenciais de domingo, venham a prologar-se por longo tempo, afetando o quotidiano das pessoas.

"Já vivemos, no passado, situações complicadas, com protestos durante três e quatro meses, afetando o nosso trabalho diário", explicou uma portuguesa à Agência Lusa, sublinhando que reza constantemente para que tudo termine bem e se resolva rapidamente.

Maria José de Almeida, doméstica de 60 anos, explicou que durante parte do dia tem ao seu cuidado um neto de três anos, que na véspera estava inquieto porque não tinham ido ao parque, no tradicional passeio diário de pouco mais de meia hora com a avó.

"Levei-o até ao jardim do edifício para que apanhasse ar, mas com a idade que tem não consigo fazê-lo entender que é perigoso sair para a rua", sublinhou.

Roberto Correia, comerciante de 45 anos, explicou à Lusa que tem alimentos suficientes em casa para vários dias, mas que pensa comprar provisões para mais uma semana.

"Apenas alguns cafés-padarias e alguns supermercados estão abertos, mas alguns em horário reduzido. Já fui duas vezes para comprar farinha, grãos, arroz e atum em lata, mas as filas para comprar e pagar eram longas e optei por regressar", explicou.

Este comerciante lembrou os tempos em que a Venezuela passou vários meses com conflitos nas ruas, o que impedia o normal funcionamento dos estabelecimentos e a distribuição de produtos.

"Temo que isso possa voltar a acontecer, o que seria muito mau, até porque muitos comerciantes ainda não recuperaram dos efeitos económicos devastadores da pandemia [da covid-19], agravados pela contínua crise económica no país", explicou.

Já a costureira portuguesa Ermelinda Olim, 62 anos, mostrou preocupação com a perspetiva de perder acesso a medicamentos de que precisa regularmente para a diabetes, a tensão arterial e dores nas pernas.

"Se pudesse comprava medicamentos para três ou quatro meses, mas não tenho dinheiro para isso, às vezes até tenho que ver o que é prioritário e ir duas vezes ao mês à farmácia", disse.

Ermelinda Olim explicou ainda que vive em Baruta, sul de Caracas, onde tem havido manifestações intensas, falhas nas comunicações telefónicas e na Internet.

"Há momentos em que não consigo nem 'descarregar' [fazer o download] um vídeo das redes sociais e quando ligo para as minhas amigas ouve-se muito mal e a chamada cai", frisou.

Sobre a alimentação, explicou que são três pessoas em casa, e que vive preocupada com o que possa acontecer aos familiares quando saem para trabalhar.

"Espero que esta situação não demore muito tempo, porque estou cansada", frisou.

A Venezuela regista desde segunda-feira protestos em várias regiões do país contestando os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

O CNE da Venezuela proclamou oficialmente, na segunda-feira, como Presidente Nicolás Maduro, para o período 2025-2031.

Segundo o CNE, Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos, tendo obtido 5,15 milhões de votos.

O principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve pouco menos de 4,5 milhões de votos (44,2%), segundo os dados oficiais divulgados pelo CNE.

A oposição venezuelana reivindica contudo a vitória nas eleições presidenciais, com 70% dos votos para o seu candidato, Edmundo Gonzalez Urrutia, segundo afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando-se a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.

Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Rússia, Nicarágua, Cuba, China e Irão, mas outros demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela como Portugal, Espanha e Estados Unidos.

Na Venezuela existem duas circunscrições consulares, Caracas e Valência, onde estão registados 600 mil portugueses.