Mélenchon recusa que "eleição já esteja resolvida" e apela à mobilização
O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, rejeitou hoje que as eleições legislativas francesas já estejam "resolvidas e o voto determinado", salientando que houve 16 milhões de franceses que se abstiveram, e fez um forte apelo à mobilização.
A quatro dias da segunda volta das legislativas francesas, Mélenchon esteve esta tarde em Goussainville, no norte de Paris, num comício improvisado, organizado em menos de 24 horas, que serviu para apelar à mobilização nesta aldeia com muitas comunidades de origens estrangeiras, cujo voto é visto como crucial para a esquerda ter um bom resultado.
"Não oiçam aqueles que vos dizem que o assunto está resolvido e que a votação está fechada. Sabem, aqueles pequenos professores que acham que sabem tudo e passam o dia de rabo sentado numa estação televisiva a debitar durante horas e horas sobre temas dos quais, muitas vezes, não conhecem nada", disse Mélenchon, de pé num palco improvisado, à frente de uma camioneta, perante cerca de uma centena de pessoas.
Mélenchon salientou que, no último domingo, apesar de ter havido uma participação histórica em legislativas, houve "16 milhões de pessoas que não foram votar".
"Dezasseis milhões é mais do que o número de votos da União Nacional (Rassemblement National, em francês) ou da Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês). Cada um de vocês conhece pelo menos uma pessoa que não foi votar e cabe-vos a vocês irem vê-los e procurar convencê-los", referiu.
Mélenchon elencou um conjunto de argumentos que disse serem cruciais para convencer as pessoas a irem as urnas, entre os quais a questão do racismo, que considerou ser "uma das ameaças" que estas eleições colocam aos franceses.
"Nós, a Nova Frente Popular, somos os primeiros interessados no fim do racismo, porque o racismo é o veneno violento que divide o povo e, quando o povo está dividido, é incapaz de tomar o poder. Por isso, é preciso estar unido e, para estar unido, é preciso respeitarmo-nos", disse.
Depois, o líder da França Insubmissa elencou várias propostas do partido, entre as quais a reforma aos 60 anos ou o controlo dos preços dos bens essenciais - e em particular da energia e do gás -, recusando que estas medidas sejam incomportáveis para as contas públicas do país.
"Eu não me transformei no Pai Natal. Nós sabemos como financiar estas medidas: o nosso orçamento prevê que todas as novas despesas sejam pagas com novas receitas. E as novas receitas - e é isso que vai mudar - não vão vir de vocês. Vão vir de quem as pode financiar: chegou a vez deles", frisou Mélenchon, provocando um longo aplauso da população.
O líder da França Insubmissa alegou que "nunca as fortunas se acumularam tanto como hoje" e que a "França nunca foi tão rica como agora".
"A Europa acha que estamos com um défice excessivo. Eu concordo, mas sabem porque é que estamos com um défice excessivo? Porque as receitas são insuficientes, porque houve uns que não pagaram a sua quota-parte. Eu vou obrigá-los a pagar essa parte. Eles vão pagar", garantiu.
Após o comício, Erene, jovem de 18 anos, disse à Lusa que foi a primeira vez que viu o Mélenchon e que o achou o "melhor orador da França", salientando que daria "um bom primeiro-ministro" e que não vê "ninguém à esquerda melhor do que ele".
"Os órgãos de comunicação social sujaram muito a sua imagem por isso, infelizmente, a maioria das pessoas ficou com a opinião de que ele não daria um bom primeiro-ministro. Mas eu pessoalmente gostava que fosse", disse Erene, que votou pela primeira vez este ano em eleições.
Já Océane, de 36 anos, disse que achou o discurso de Mélenchon "muito breve" e teve pena de não trocado nenhuma palavra com o líder da França Insubmissa - a seguir ao discurso, de cerca de 15 minutos, Mélenchon saiu do palco e entrou logo numa carrinha - e defendeu que seria um "bom primeiro-ministro".
"Se queremos uma revolução, uma mudança clara e firme, às vezes é preciso dar o salto", disse Océane. Questionada se Mélenchon é a personalidade da esquerda que mais gostaria de ver como primeiro-ministro, diz que, nesta altura, "também tem outras preferências", mas já segue o líder da LFI há muito tempo.