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Parte dos precários da Global Media deixou jornalismo e há quem recuse trabalhar sem receber

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Uma parte dos 130 jornalistas a recibos verdes do Grupo Global Media (GMG) interrompeu a colaboração e há quem já tenha mudado de profissão, relataram hoje à Lusa participantes da vigília que decorreu no Porto.

Jornalistas e colaboradores do GMG concentraram-se hoje, no Porto, para denunciar a situação dos trabalhadores independentes daquele grupo, responsabilizando-o pelos quase dois meses de salários em atraso e por falhar, também, na comunicação.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas (SJ), o negócio para a compra de títulos do Global Media Group (GMG) pela Notícias Ilimitada é apresentado pela administração do grupo como a solução para o grave problema da falta de pagamento aos trabalhadores a recibos verdes e para a regularização do subsídio de Natal.

Em declarações à Lusa, o representante do sindicato, Augusto Correia, explicou que "se o negócio atrasar até 15 de julho e a Global continuar sem pagar, eles vão acumular dois meses de vencimentos em atraso. Neste momento está em causa o vencimento de abril e, a partir de 10 de julho, o de maio".

"Há colaboradores que queriam estar aqui, mas não puderam por não terem dinheiro para a gasolina ou para pagar o passe", começou por descrever o dirigente sindical, indicando, também, "haver pessoas que estão a vender roupa em lojas de segunda mão para poderem ir vivendo".

Questionado quantos são os trabalhadores a recibos verdes, Augusto Correia estimou serem "entre 100 e 120", assinalando que dadas as saídas verificadas no Diário de Notícias, TSF e no Jornal de Notícias (JN) o número total diminuiu.

Ana Magalhães, representante dos trabalhadores do diário desportivo O Jogo, revelou que "já há pessoas à procura de emprego", pois "boa parte destas pessoas têm nesta colaboração uma parte fundamental do seu orçamento familiar, pessoas com filhos, com obrigações, sujeitas a um desgaste emocional enorme".

Enfatizando tratar-se de trabalhadores "absolutamente essenciais para O Jogo chegar a todo o território e às ilhas", indicou, geograficamente, que são pessoas de Chaves a Faro, para além dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

"Há quem já tenha decidido não trabalhar enquanto não receber", acrescentou a jornalista.

Da parte do JN, Rita Salcedas assegurou que os salários em atraso estão a pesar muito na gestão diária do jornal "porque a maior parte dos trabalhadores a recibos verdes da GMG trabalham para o JN" .

"Uma parte deles deixou de trabalhar assim que começou esta segunda onda de atrasos salariais e numa redação que já é curta, esses constrangimentos fazem com que as rotinas diárias fiquem mais complexas", continuou a representante dos trabalhadores para quem a "GMG não só não paga como não comunica formalmente, não dá garantia de nada".

Relativamente às ondas de choque para os colaboradores, Rita Salcedas revelou que uma parte "manteve-se na profissão, mas fora do grupo, enquanto outra mudou de profissão".

Correspondente do JN nas zonas de Leiria e Santarém desde fevereiro de 2018, Alexandra Barata é colaboradora a recibo verde e relatou à Lusa estar indignada pelo atraso nos salários, mas também pelo facto de a administração "não responder aos contactos feitos".

"É um desrespeito profundo, parece que somos insignificantes para eles", disse antes de manifestar a esperança de que "após a assinatura da escritura" a administração os "passe a tratar com o valor que lhe é devido".

Carina Fonseca, jornalista da revista Evasões, admitiu à Lusa viver "um grande desgaste emocional", pois "é impossível não estar permanentemente a pensar" na falta que o dinheiro lhe faz.

"Sentimo-nos um bocado abandonados em todo este processo, pois além de não recebermos, ninguém nos dá uma palavra", reiterou a profissional da revista do JN.

Sem conseguir esconder a emoção por ser obrigada a equacionar sair da profissão que "ama", Carina Fonseca confessou: "sim, passa-me pela cabeça desistir, a precariedade faz isso".