Venezuela anuncia retirada de pessoal diplomático de sete países latinos
A Venezuela anunciou hoje a retirada do seu pessoal diplomático de sete países latino-americanos, em protesto contra a ingerência dos governos que contestam a reeleição de Nicolás Maduro nas presidenciais de domingo, tal como a oposição.
Caracas considera que a posição destes governos, Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, "mina a soberania nacional" e solicitou que os seus diplomatas abandonem os países, revelou, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"A Venezuela reserva-se todas as ações jurídicas e políticas para respeitar, preservar e defender o nosso direito inalienável à autodeterminação", sublinhou ainda o Governo chavista, garantindo que irá "enfrentar todas as ações que ameacem o clima de paz e coexistência".
O executivo venezuelano expressou ainda "a sua mais firme rejeição às ações e declarações intrometidas de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington e abertamente comprometidos com os mais sórdidos postulados ideológicos do fascismo internacional, (...) que tentam ignorar os resultados eleitorais".
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou hoje oficialmente Maduro presidente, depois de ter anunciado no domingo à noite que o chavista, no poder desde 2013, ganhou as eleições com 51,2% dos votos.
Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões de votos (44,2%), de acordo com os números oficiais anunciados.
Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Rússia, Nicarágua, Cuba, China e Irão, mas outros Estados da comunidade internacional, e reconhecidos como democráticos, demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela.
Foi o caso de Portugal, Espanha ou Estados Unidos.
Nove países latino-americanos - Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai - pediram hoje uma "revisão completa" dos resultados eleitorais na Venezuela, país que conta com uma significativa comunidade de portugueses e de lusodescendentes.
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) instou hoje os governos a não reconhecerem os resultados das eleições venezuelanas "até que todos os registos eleitorais sejam tornados públicos e comunicados à oposição".
A diretora para as Américas da HRW, Juanita Goebertus, destacou que a proclamação da vitória de Maduro "é um movimento vergonhoso que ataca os direitos políticos de todos os venezuelanos", de acordo com um comunicado enviado à agência Efe.
Dezenas de soldados venezuelanos lançaram hoje bombas de gás lacrimogéneo contra cidadãos que saíram à rua, em Caracas, em protesto da proclamação da vitória eleitoral de Maduro.
Depois de percorrerem cerca de 10 quilómetros pelo leste da capital venezuelana, os milhares de manifestantes chegaram a um ponto junto à autoestrada principal, onde membros da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, Polícia Militarizada) e da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) impediram a continuação da caminhada, noticiou a agência Efe, acrescentando que os protestos e a mobilização de pessoas persistem em vários pontos de Caracas.