Lusodescendentes votaram por dever, pela paz e com a expectativa de mudança
Vários portugueses e lusodescendentes foram dos primeiros a votar hoje nas presidenciais da Venezuela, uns para cumprir com um dever e outros com a esperança de que prevalecerá a paz e que se aproximam tempos de mudança.
Manuel Freitas, comerciante 60 anos, foi votar à primeira hora, em Chacao, no leste de Caracas, para ter a certeza que contribuía com um direito e uma obrigação de um imigrante com mais de 50 anos na Venezuela.
"Votar é um direito, mas também um dever, que cumpro cada vez que há eleições na Venezuela. Quem não votar não tem autoridade moral para depois se queixar quando há algo que não está bem, ou mesmo para sentir-se orgulhoso de ter apoiado a pessoa certa", disse à Lusa.
Por outro lado, explicou que o país precisa de transformações e de flexibilizar algumas políticas, nomeadamente no económico, mas que para que isso ocorra é importante que toda a população vote.
Já Ermelinda Andrade, doméstica de 58 anos, acudiu cedo às urnas com a esperança de estar a contribuir para um melhor país e de que prevalecerá a paz.
"Fui votar e agora vou à missa. Vou agradecer a Deus por mais esta oportunidade de contribuir para definir o destino da Venezuela, que espero seja melhor que o atual", explicou a portuguesa que votou em El Paraíso, na zona oeste da capital.
Esta doméstica explicou que em poucos anos terá idade para a reforma, mas que "o valor mensal das pensões não dá nem para comprar uma caixa de pastilhas para a hipertensão", uma "realidade que deve mudar".
À Lusa, explicou que foi levada pelos pais para a Venezuela quando tinha apenas 4 anos de idade e que continua a ser portuguesa de nacionalidade e de coração, mas que voltar a Portugal já não faz parte dos seus planos, apesar de ter saudade da família que tem na Madeira.
Aurélio da Silva, engenheiro informático de 25 anos de idade, votou em San Bernardino (centro), com a esperança de que na segunda-feira surja uma nova Venezuela, admitindo que se a situação não melhorar no país terá que emigrar para um país de fala castelhana, da América do Sul ou da Europa, talvez para Portugal, apesar de não falar bem português.
"Votar hoje foi a minha última esperança de uma mudança. Tenho muita expectativa e tensão pelo que possa acontecer. Tenho uma bebé de dois anos e temo não poder dar-lhes os cuidados e a atenção que necessita, porque o salário aqui é irrisório e o dinheiro escasseia. Dizem-me que em Portugal a minha profissão tem alta demanda, mas a barreia do idioma faz-me duvidar", explicou.
Por outro lado, a odontologista Miryam Martins, 28 anos, está de passagem na Venezuela, de onde emigrou para Madrid, Espanha há três anos.
"Tinha muitas saudades e vim para me reencontrar com amigos e familiares. Também para votar, porque acredito que são tempos de mudança na Venezuela", disse à Lusa, em La Candelária, no centro de Caracas.
Explicou ainda que tem o coração dividido entre a expectativa do que acontecerá com as eleições e o desejo de ver uma Venezuela próspera, que seja referência mundial, um exemplo político e económico.
As ruas amanheceram com mais movimento de carros no dia de hoje, mas pouco mais expressivo que os domingos em Caracas.
Ao abrir as assembleias de voto eram visíveis dezenas de pessoas à espera para poder aceder aos centros onde no interior outras dezenas faziam fila para votar.
Algumas pessoas questionaram os jornalistas internacionais, sobretudo os correspondentes permanentes em Caracas, se não era o momento de deixar de ser moderados nas informações que transmitiam para o estrangeiro e se estavam preparados para contar o que acontecia num dia histórico para a Venezuela.