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Análise

O drama da habitação e o saber sair de cena

Um dos maiores sites de imobiliário revelou que o Funchal é a cidade mais complicada, no País, para arrendar casa. Muito dificilmente uma família com um rendimento médio conseguirá suportar os valores praticados actualmente pelo mercado. Uma pesquisa rápida efectuada na sexta-feira demonstrou a impossibilidade de um trabalhador comum poder suportar mil euros por mês por um T1 situado no Caniço ou mesmo 750 euros pelo imóvel mais barato encontrado no respectivo site, um T2 na Calheta.

O que se passa na habitação precisa de intervenção rápida. O modelo actual não está a dar as respostas necessárias para as pessoas que precisam de uma casa, para os jovens que querem constituir uma família e para os que pretendem autonomizar-se dos pais. Estamos a construir uma sociedade de adiados, muito pior do que aquela que começou a trabalhar há 10, 20 ou 30 anos. O que é verdadeiramente dramático e preocupante.

A pressão turística e o aumento do número de prédios destinados a alojamento local está a empurrar as pessoas para fora dos centros urbanos. Nalgumas artérias do Funchal essa realidade é bem evidente. Se os donos dos imóveis pretendem uma rentabilidade maior, os naturais nunca vão conseguir pagar essa factura, subsistindo uma única saída: adiar o que não deveria ser adiado, com todas as consequências que isso gera.

É urgente encontrar equilíbrio entre a necessidade turística e económica e a qualidade de vida dos residentes, que começa a ser efectivamente afectada no seu quotidiano. Veja-se, por exemplo, a proliferação de empresas ‘rent-a-car’ e o consequente aumento de tráfego e de ocupação de garagens e passeios públicos.

Se o surgimento do alojamento local, e isso é preciso sublinhar, ajudou na reabilitação urbana de muitas artérias e de cidades, contribuiu decisivamente para o aumento dos preços do arrendamento das casas, dificultando a vida às pessoas.

Cabe às autarquias e ao Governo Regional encontrarem formas eficazes e rápidas de mitigar esta verdadeira dor de cabeça. A Investimentos Habitacionais da Madeira tem uma lista de espera a rondar as 5 mil pessoas e um programa de apoio ao arrendamento que não chega para as necessidades.

Em 1995/6 o governo de António Guterres lançou o IAJ – Incentivo ao Arrendamento Jovem – que abrangeu milhares de jovens, comparticipando num máximo de 50 contos os alugueres de imóveis. Na época isso foi determinante para a autonomização de muitos. Revisite-se o conceito, actualize-se o modelo e actue-se, com rapidez.

2. Joe Biden desistiu da candidatura à Casa Branca num momento crucial para a segurança do planeta que se debate com duas guerras em simultâneo, de difícil resolução. Biden, ao contrário de Trump, conhece como ninguém os meandros da complexa política internacional e sabe que só um bloco democrático hegemónico liderado pelos Estados Unidos impedirá que a sanha imperialista de Putin progrida. Com a decisão de sair, o actual Presidente poderá salvar a democracia americana mais uma vez, a segunda, no prazo de quatro anos. A idade está a pesar e Biden dificilmente conseguiria aguentar-se durante mais um mandato. O mundo precisa de um presidente na posse de todas as suas faculdades. Nos últimos meses a notícia deixou de ser a mensagem do presidente, mas sim as gafes e dos seus engasganços. Pressionado é certo, Joe Biden sai de cena pelo seu pé, porque a democracia sobrepõe-se a qualquer “ambição pessoal”. Poderia, teimosamente, manter uma candidatura que dificilmente sairia vitoriosa, mas optou pelo bom-senso, numa atitude que poderá travar a eleição de Donald Trump, um homem egocêntrico e perigoso.

A lição de Joe Biden deve servir de exemplo e inspiração a muitos políticos que teimam em manter-se na ribalta apenas por conveniência pessoal. Há um tempo para tudo e mais importante do que entrar é saber sair. Temos variadíssimos exemplos no panorama nacional e regional de líderes políticos que teimam em não querer interpretar os sinais e que fazem finca-pé em permanecer nos cargos para além do que é razoável, viciando o próprio sistema e tornando-o pernicioso. Não há homens providenciais nem insubstituíveis em nenhum sector de actividade, muito menos na política.