Conseguiriam os ralis sobreviver na Madeira sem os apoios públicos?
Aproxima-se mais uma edição do Rali Vinho Madeira. Como habitualmente, surgem as notícias dos apoios públicos à prova, que não se limitam à comparticipação financeira.
A reprodução de tais notícias nas redes sociais, em especial no Facebook, leva a que os leitores sejam brindados com um conjunto de comentários depreciativos das provas, acima de tudo, pelo facto de contarem com dinheiros públicos, na sua realização. Críticas que vêm mesmo de leitores que dizem apreciar os ralis.
A dúvida que se coloca é se é possível esse ‘sol na eira e chuva no nabal’, ao pretender que os ralis aconteçam sem a inclusão de dinheiros públicos. Será possível?
Como habitualmente, seguimos a regra de apresentar os factos com fontes identificadas. Mas, aqui, não o conseguimos na totalidade. Pois valorizámos muito as informações fornecidas por uma pessoa ligada à organização de vários ralis, na Região, que só aceitou falar na condição de não a identificarmos.
Não é nosso objectivo apurar se o investimento das administrações Regional e locais é compensador para a Região e para os municípios, mas somos obrigados a fazer algumas referências a esse tema.
Ainda ontem, foi revelada a mensagem do secretário regional de Economia, Turismo e Cultura sobre a 65ª edição do Rali Vinho Madeira, que está agendada pepa os dias 1 a 3 de Agosto, em que Eduardo Jesus afirma que o rali “contribui para a dinamização da economia local”.
“A Região Autónoma da Madeira destaca-se como um destino turístico único, reconhecido internacionalmente. E, nesse contexto, eventos de grande visibilidade, como esta prova automobilística com mais de seis décadas de história, são fundamentais para a consolidação do posicionamento do arquipélago, ampliando a sua notoriedade no exterior e diversificando a oferta turística dirigida a diferentes segmentos de público", diz o governante.
Na sua declaração explica ainda que "cada edição do rali, além de permitir que os madeirenses e porto-santenses revivam a paixão por esta competição, contribui para a dinamização da economia local em toda a ilha, resultando num significativo impacto económico na Região".
Esta é a principal razão para os apoios públicos à prova. Que o digam os autarcas. Há, por exemplo, ralis a mudar de datas para se realizarem em períodos que os municípios apoiantes consideram mais interessantes.
Outro fenómeno que vem a acontecer, em especial nos ralis de distribuição geográfica municipal, mas também no Rali Vinho Madeira, é a menor realização de provas em zonas de serra e cada vez mais em áreas mais urbanas. O objectivo será encontrar um equilíbrio entre os interesses desportivos e os económicos (dinamização da economia local), das entidades financiadoras.
A pessoa a que referimos ao início e que nos falou na condição de não ser identificada, garante-nos que os apoios públicos aos ralis locais, chamemos-lhes assim, são possíveis com um financiamento público na ordem dos 80 a 90% do respectivo orçamento.
A AMAK - Associação Madeirense de Automobilismo e Karting – em 2011, reconhecia isso mesmo: “Sem o apoio das Câmaras e de outros grandes patrocinadores os ralis estão em risco.”
A mesma fonte (pessoa que pediu para não ser identificada) estima que o Rali Vinho Madeira possa experimentar uma realidade semelhante, ainda que seja difícil dizer com precisão, a partir de informação pública ou publicada. Por exemplo, não conseguimos contabilizar o apoio da Associação de Promoção da Madeira, que, apesar de ter sócios privados, vê grande parte do respectivo Orçamento provir dos cofres da Região. Por outro lado, a ‘prova rainha do automobilismo madeirense’ tem patrocinadores privados de maior monta.
Mas, para que possamos ter uma ideia do nível de gastos que está em causa, é possível revelar que as despesas com policiamento rondam 100 mil euros e outros cerca de 50 mil com controladores, comissários de estrada, equipas médicas, reboques e bombeiros, ainda que parte da actividade dos bombeiros seja assegurada pelas câmaras.
Este aspecto leva-nos a outra vertente do apoio, o institucional. Muitas entidades ajudam a suportar a realização de provas automobilísticas com apoios que não implicam entrega de dinheiro à organização. É através de apoio logístico ou até como faz a Região com o Rali Vinho Madeira.
Habitualmente e isso volta a acontecer neste ano, a Administração Regional concede tolerância de ponto aos seus funcionários nos dias de realização do rali. Na prática, ainda que de direito não, a Região dá feriado aos seus funcionários, para que, querendo, possam participar, assistindo, no Rali. É também uma forma de dinamizar a economia e de dar à prova características muito apreciadas por quem nos visita ou assiste à distância.
Nos últimos dias, foi notícia a concessão de um apoio financeiro da Região no montante de 345 mil euros. A decisão foi tomada no Conselho de Governo de 17 de Julho último, mas parece-nos óbvio que o compromisso e montante já estariam acertados.
Também foi revelado que o Município do Funchal contribui com 40 mil euros e o da Ponta do Sol com cinco mil euros.
Na memória de todas as pessoas que se interessam e acompanham estes assuntos, nomeadamente, através das notícias, está a querela entre a organização do Rali e o Município de Santana, exactamente pela não concessão de um apoio em 2023. A autarquia alegou ter de cumprir os regulamentos municipais, o que era verdade, e disse nada ter contra o rali.
Pela conjugação de todas as razões aqui expostas, avaliamos como falsa a ideia de que é possível ter provas de automobilismo na Madeira, na quantidade e/ou dimensão que existem, sem apoios públicos.