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E chega ao fim do ciclo olímpico Paris 2024

Precisamos de uma política desportiva que valorize o desporto individual e reconheça as suas especificidades

E estamos outra vez em mais uns Jogos Olímpicos, Paris 2024! Em primeiro lugar, quero dar os parabéns e desejar boa sorte a todos os desportistas portugueses que vão estar no maior e mais importante evento desportivo do mundo. Só lá estar já é uma vitória! E, em especial, aos nossos três madeirenses presentes: Pedro Buaró, Marcos Freitas e Fu Yu. É um orgulho ver-vos no maior palco desportivo do mundo, parabéns a vocês, vossos treinadores e restantes agentes desportivos que vos acompanharam neste ciclo! E também aos treinadores madeirenses presentes, como é o caso do Marco Vasconcelos com a seleção brasileira de badminton!

Mas… Portugal estará representado por 73 atletas em 15 modalidades nos Jogos Olímpicos. É a representação mais baixa desde Sydney 2000, quando a Missão Portuguesa foi composta por 62 atletas. São menos 19 do que os 92 que se apuraram para Tóquio 2020 e Rio 2016. José Manuel Constantino admitiu ontem que esperava uma Missão “mais extensa” em Paris 2024… Na minha humilde opinião, é preciso repensar a política desportiva no país: o que temos, o que podemos ter e para onde queremos ir!

Reflexão sobre a Realidade Madeirense

Na realidade madeirense, a esperança também era muita, mas infelizmente, nem tudo correu bem pelas mais variadas razões. Falando da modalidade que tanto amo, o atletismo, é com muita tristeza que vejo, de ano para ano, os nossos atletas com cada vez menos condições de trabalho. Temos três pistas de atletismo na ilha, mas quantas têm condições reais e completas para trabalhar? O complexo da Ribeira Brava apostou muito na promoção para estágios de atletismo. A pergunta que faço é: quantos atletas vieram cá estagiar? E por que razão o número é tão baixo ou quase inexistente?

No atletismo, como o grande treinador de atletismo Sérgio Cruz, que tem feito um trabalho excecional com as poucas e adversas condições que tem para seus lançadores, afirmou nas suas redes sociais: “Enquanto a política desportiva estiver virada para a componente coletiva, sendo o atletismo uma modalidade individual, equiparada a uma modalidade coletiva, o atletismo terá sempre as ‘mãos atadas…’”. E o treinador de triatlo/natação e atletismo Duarte Mendonça observou nas suas redes sociais também: “…4 equipas regionais, carregadas com contentores e contentores de atletas continentais, que não vivem nem treinam na RAM, não são orientados pelos técnicos regionais, não competem na Madeira e cuja única ligação à Região é o dinheiro que recebem do Jardim da Serra, ADRAP, Estreito e Marítimo. Na totalidade, 85% da pontuação das equipas regionais é feita por eles, sendo apenas 15% alcançado por atletas madeirenses.”

Reflexão Crítica sobre a Formação de Atletas

Lembro-me de uma célebre entrevista dada pelo treinador de basquetebol João Freitas, onde afirmou: “Não vale a pena investir na formação de jogadores.” Ele desmistificou a aposta na formação; em 20 anos de basquetebol ao mais alto nível, o CAB formou quatro jogadores capazes de jogar a este nível. Por isso, ele é perentório: é melhor investir em jogadores já formados, pois formar jogadores é mais caro e leva muito tempo. Será este o caminho que os agentes desportivos ligados ao atletismo e ao desporto em geral regional estão a seguir há muitos anos?

Situação Atual e Soluções

Temos muitos bons atletas e treinadores no nosso atletismo regional, como vemos pelo excelente resultado da atleta SUB16 Cristina Neves, treinada pela excelente treinadora Filipa Freitas, e os últimos resultados obtidos por ela e, por exemplo, pelo grupo de treino do treinador de lançamentos Sérgio Cruz. Mas, depois, vemos a situação em que pelo menos quatro dos melhores atletas seniores madeirenses tiveram que sair da ilha para outros clubes, como o olímpico Pedro Buaró, que já não tinha condições para evoluir nas nossas condições, mais a Rosalina Santos, o Nuno Pereira e Décio Andrade, que esteve a estudar e treinar nos EUA. Mas onde andam os outros? Em 2004, tivemos a Maribel Gonçalves, em 2008 e 2012 o grande Alberto Paulo nos JO, e nos Jogos Paralímpicos de Sydney 2000, Atenas 2004 e Londres 2012 o nosso paraolímpico José Rodolfo Alves, todos a treinar quase a 100% cá na ilha e com treinadores madeirenses a trabalhar com eles… No caso do Alberto, com orientação do grande treinador continental professor João Campos!

Propostas para Melhorar

Os nossos agentes desportivos ligados à modalidade, os responsáveis políticos e governantes têm de repensar a estratégia para o atletismo, novas formas de tornar mais justa e correta, mais e melhores infraestruturas, investir na formação dos treinadores e apostar muito mais na formação. Vejo bem um investimento no atletismo mais popular com as provas de estrada e no desporto veterano, com os mais variados eventos regionais e internacionais, que são sempre bem-vindos e admito que bem organizados. Mas não vejo nada acontecer de revelante no desporto sénior e de formação!

Conclusão

Precisamos de uma política desportiva que valorize o desporto individual e reconheça as suas especificidades. Investir nas condições de treino e na formação de atletas e treinadores é essencial para criar uma cultura desportiva robusta e sustentável na Região Autónoma da Madeira. Só assim poderemos ver os nossos jovens desportistas a alcançar os seus sonhos e a representar a nossa ilha ao mais alto nível!

Agora vamos viver e desfrutar Paris 2024 e começar a trabalhar para Los Angeles 2028!

Vamos juntos lutar por um futuro melhor no desporto madeirense!