O bom, o mau e o arrependido
A idade e a pressão dos democratas apanharam Biden. Para além das dúvidas sobre se ganharia a Trump, o que matou a campanha de Biden era a possibilidade de ganhar e não ter condições de saúde para exercer o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Kamala não tem esse problema e, só por isso, é uma alternativa (para além de credível, como era Biden) viável a Trump. Todavia, a iminente substituição de Biden por Kamala Harris, como candidata do Partido Democrata, deixa uma questão delicada em aberto. Se Biden não é fisicamente capaz de ser candidato a Presidente dos Estados Unidos, o que será do resto da sua presidência?
O bom: Nuno Melo
Ao todo serão 120 milhões de euros. Não sei se será, como anunciou o Governo, a maior valorização de sempre na remuneração das Forças Armadas portuguesas, mas é, certamente, o primeiro passo na correção do desinvestimento crónico nos militares portugueses. Em alguns casos, o aumento salarial será superior a 100%. Em quase todos o aumento ultrapassa os 50%. O esforço orçamental não se fica por quem está no ativo. Melo avançou, ainda, com uma compensação especial por morte ou invalidez permanente e com a comparticipação a 100% dos medicamentos para os antigos combatentes. Alguns dirão que, com as medidas anunciadas, o Governo terá aberto a caixa de pandora dos aumentos salariais junto dos trabalhadores ao serviço do Estado. Depois das reivindicações dos polícias, dos militares, dos funcionários judiciais, é certo que outros tantos profissionais se seguirão. Ainda assim, talvez essa vertigem salarial, acompanhada do desânimo que grassa na função pública, diga mais sobre o anterior governo do que sobre a disponibilidade negocial do atual. Seja como for, Nuno Melo deu a cara por um investimento histórico nas Forças Armadas e que demonstra vontade governativa em reverter anos a fio de abandono de quem tem nas mãos uma missão de valor e dificuldade incalculável. Só por isso, merece reconhecimento.
O mau: Sérgio Ávila
De ilustre desconhecido dos madeirenses a guru económico do PS Madeira. Sérgio Ávila, antigo Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores, foi cabeça de cartaz do ajuntamento socialista onde, alegadamente, se iria repensar a Madeira. Depois do velório dos Estados Gerais do PS Madeira, por onde cambalearam os despojos da alta roda socialista nacional, decidiu a liderança regional arregimentar uma constelação de especialistas para justificar a fantasia de que ainda não teriam decidido votar contra o orçamento regional. Como, aliás, se viria a confirmar na semana passada. A fina seleção socialista, que ia de vereadores ressuscitados a secretários de estado desconhecidos, era heroicamente encabeçada pelo açoriano Sérgio Ávila. A coragem de Ávila, para além da disponibilidade para dar a mão a uma liderança regional enfraquecida, demonstra-se no atrevimento de vir à Madeira dar lições aos madeirenses sobre economia e finanças. Para alguém com o currículo governativo de Sérgio Ávila é, no mínimo, ousado. Basta recordar os êxitos financeiros da governação socialista nos Açores, na qual Ávila assumiu a pasta das Finanças durante uns longos e fatídicos 16 anos. A falência técnica das empresas públicas que geriam os hospitais nos Açores, em conjunto com uma dívida global superior a 400 milhões de euros. O grave desequilíbrio económico e financeiro do grupo SATA, o qual, entre 2013 e 2019, acumulou prejuízos que rondavam os 260 milhões de euros. Ou, ainda, a concessão de avales públicos a empresas privadas, sem a devida informação ao Tribunal de Contas. Com uma folha de serviços deste gabarito, e sempre que o assunto for financeiro, Sérgio Ávila deveria preferir o recato à ribalta.
O arrependido: Paulo Cafôfo
Há mais alegria no céu por um arrependido, do que por noventa e nove justos que não precisam de se arrepender. Depois da insistência no erro político de tentar chumbar o programa de governo e, com isso, impedir a discussão do orçamento regional, Paulo Cafôfo arrependeu-se. Ou, pelo menos, quis ensaiar um ato de contrição. Não creio, como já aqui escrevi, que o PS (ou qualquer partido da oposição) estivesse obrigado, por princípio, à aprovação do programa ou do orçamento. Todavia, no caso do PS e do JPP, uma vez assente a recusa em negociar e confirmado o voto contra o programa do governo, é difícil de justificar uma reviravolta no sentido de voto para o orçamento. Nem que seja pelo orçamento apresentado ser do governo contra o qual esses partidos votaram, apenas quatro dias antes. Ainda assim, Cafôfo tentou a redenção. Primeiro, tentou criar a dúvida quanto ao voto, depois, arriscou o anúncio de uma abstenção na votação na generalidade, mas nunca conseguiu responder à pergunta chave. Se o PS tivesse levado a sua avante e o programa de governo sido reprovado, nem teríamos chegado à discussão do orçamento. Então, como pode o orçamento ficar “aquém” do que deveria ser, quando, pelo PS, ele nem sequer existiria? Foi esta a resposta que Paulo Cafôfo, perdido no lugar de líder parlamentar, nunca deu ao longo do debate. Criticou, acusou e apontou o dedo, mas não explicou porque é que a negociação não valia para o programa de governo, mas era essencial para definir o sentido de voto do PS no orçamento. Já diz o povo: quem muito se arrepende, tarde ou nunca se emenda.