Não é possível considerar a Nau Santa Maria uma réplica da de Colombo?
Na edição on-line do DIÁRIO, do dia 25 de Julho, um texto recordava que a ‘Réplica da Nau Santa Maria se fez ao mar há 26 anos’. A notícia, no contexto da rubrica ‘Canal Memória’, lembrava que a Nau Santa Maria, acabada de construir em Câmara de Lobos, foi lançada ao mar no dia 24 de Julho de 1998, de onde, após alguns breves testes de mar, seguiu para Lisboa, para representar a Madeira na Expo’98.
A construção resultou da iniciativa privada do holandês Robert Wijntje, sendo que levou cerca de um ano a ficar concluída, com os trabalhos a decorrerem precisamente em Câmara de Lobos, pelas mãos do calafate Jorge Nunes Oliveira, o ‘Bailinha’. Custou cerca de 80 mil contos.
Ao texto ontem publicado no DIÁRIO, foi feito um comentário, que colocava em causa tratar-se de uma réplica, pelo facto de, ao que era afirmado, não estar em causa uma cópia exacta. Será mesmo assim?
A Nau Santa Maria tem, de facto, alguns pormenores que não faziam parte da embarcação original. Desde logo, dispõem de motor de combustão, o que, como é obvio, não acontecia com a embarcação de Colombo. Por outro lado, foram feitas alterações na quilha para melhorar a navegabilidade, relativamente ao original.
Sendo uma embarcação de utilização turística, também dispões de algumas comodidades que, à época de Colombo, não existiam.
A tudo isto, juntam-se algumas tecnologias de navegação.
Será, no entanto, que estas diferenças fazem com que não se possa classificar como réplica a Nau Santa Maria?
O conceito de réplica de uma embarcação histórica não é preciso. Depende um pouco do contexto - se for para fins educativos ou museológicos, a fidelidade histórica é crucial, se for para fins turísticos ou de entretenimento, algumas concessões podem ser feitas - mas deve, em qualquer caso, ser o mais fiel possível ao original, tanto na aparência como nas características técnicas.
A aparência da réplica deve de ser de norma, tamanho, materiais e pormenores visuais semelhantes ao original. As características técnicas também devem de ser o mais aproximadas possível ao original. No entanto, a normas de segurança actuais são diferentes das de então.
Os materiais usados na réplica também devem de ser semelhantes aos originais e trabalhados de idêntica forma.
Apesar de tudo isto, as réplicas modernas de embarcações históricas integram sistemas de segurança avançados, como sistemas de detecção de incêndio, comunicação por rádio e equipamentos de navegação modernos.
Podem também, para conforto dos passageiros, incluir sistemas como casa de banho, ar condicionado ou equipamentos de entretenimento.
Por fim, mas não menos importante, as réplicas devem de obedecer às actuais normas e regulamentações marítimas, o que pode determinar algumas diferenças, relativamente aos originais.
Pelo Mundo existem muitas réplicas de embarcações históricas, de centenas de anos até milhares. Vejamos um caso recente e que está a gerar alguma polémica.
Neste momento, uma das réplicas que mais estão a dar que falar é do Titanic.
A 17 de Abril de 2024, a versão portuguesa da National Geographic noticiava que o Titanic II, ‘a réplica do navio mais famoso do mundo, zarpará em Junho de 2027’.
Era explicado que “a companhia de navegação Blue Star Line, gerida pelo magnata Clive Palmer, anunciou o projecto de reviver o Titanic. O projecto Titanic II, que já reúne ‘os melhores construtores navais, designers e engenheiros do mundo’, segundo o comunicado oficial, promete proporcionar aos passageiros uma experiência de viagem próxima das condições do transatlântico original, mas com as garantias de segurança oferecidas pelas novas tecnologias”.
O novo navio terá mais quatro mil toneladas do que o original, “mas o número de conveses e o comprimento serão os mesmos do navio de 1912. Para além disso, os passageiros também serão divididos em classes: concretamente, haverá 383 quartos de primeira classe, 201 quartos de segunda classe e 251 quartos de terceira classe, perfazendo um total de 835 cabines. O mesmo número que o seu modelo”.
Pelo exposto, avaliamos como falsa a afirmação de que a Nau Santa Maria não pode ser considerada uma Réplica, por não ser uma cópia total, uma reprodução exacta, do original.