É a primeira vez que os terrenos que rodeiam o Hospital dos Marmeleiros estão por limpar?
Ontem, em comunicado, a coordenadora regional do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR), Liana Reis, deu conta de "denúncias de utentes e moradores" que apontavam a falta de limpeza dos terrenos nos arredores do Hospital dos Marmeleiros e do Hospital João de Almada.
A notícia que o DIÁRIO publicou sobre o tema deu origem a alguns comentários. Um deles, da autoria do leitor Lino Dias da Silva referia que “todos os anos [é] a mesma coisa”, acrescentando que “o terreno a Norte, atrás do hospital, também [estava por limpar]. Ora, na verificação de hoje vamos indagar se esta é a primeira vez que estes terrenos se encontram por limpar ou se, pelo contrário, é recorrente os terrenos que circundem o Hospital dos Marmeleiros estarem cobertos de vegetação, necessitando de limpeza.
Com o tempo quente a fazer aumentar o risco de incêndio em toda a Região, a população passa a dar mais atenção a aspectos como a limpeza dos terrenos ou a proliferação de espécies infestantes, que em grande número podem potenciar o risco de propagação do fogo.
O problema da falta de limpeza de parcelas baldias verifica-se um pouco por todos os concelhos da Região, tanto em propriedades privadas, como públicas, ou mesmo em zona florestal.
Erica Franco , 24 Julho 2024 - 13:35
E se no caso dos terrenos privados são sobretudo os vizinhos que apontam o dedo à necessidade de desmatação, com receio dos problemas que podem daí derivar para a sua propriedade, no caso dos terrenos públicos, por serem tendencialmente maiores e, por conseguinte, com maior impacto mesmo na observação descuidada, as críticas tendem a generalizar-se. É o que acontece, de certa forma, com os terrenos que rodeiam o Hospital dos Marmeleiros, no Monte, cuja alegada falta de limpeza motivou, no dia de ontem, um comunicado do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR) a pedir uma intervenção imediata.
Liana Reis, coordenadora regional do partido, disse ter recebido “denúncias de utentes e moradores”, dando conta da muita quantidade de plantas infestantes naquele espaço, potenciando o risco de incêndio.
"Segundo fomos informados, as últimas limpezas foram efectuadas no ano passado aos arredores do Hospital dos Marmeleiros e no centro de saúde no início deste ano", referia a dirigente do RIR, instando a que se proceda "à desmatação e limpeza das áreas, não só pelo risco de incêndio, mas também porque quando queremos e exigimos que os proprietários privados procedam às limpezas, as entidades públicas deverão ser as primeiras a dar o exemplo".
O tema fez originou vários comentários da parte dos leitores do DIÁRIO. Um deles, Lino Dias da Silva referia que “todos os anos [é] a mesma coisa”. Mas será que é mesmo recorrente esta situação? Ou que, pelo menos, não acontece pela primeira vez?
Para tentarmos perceber até que ponto este cenário já se repetiu no passado, socorremo-nos do arquivo do DIÁRIO, para aí indagarmos se, no passado, este mesmo problema já fora noticiado.
Nas pesquisas que efectuámos, usámos como palavras-chave ‘Hospital dos Marmeleiros’, ‘terreno’ e “limpeza’, conscientes de que com estes filtros poderiam ficar ‘de fora’ algumas notícias que, embora não utilizando estes vocábulos, podem referir-se ao problema.
Ora, encontrámos várias notícias em que este assunto foi chamado às páginas deste matutino, nos últimos 20 anos. Vamos destacar apenas algumas, de modo a não sermos demasiado exaustivos, já que isso não acrescentaria grande significado à verificação.
Na verdade, este não é um problema novo. Em 2007, denuncia semelhante à agora feita pelo RIR partia do Partido Socialista (PS), que na Assembleia Municipal do Funchal apresentou preocupações relativas à limpeza dos terrenos adjacentes à unidade de saúde. Faz hoje precisamente 17 anos, o DIÁRIO noticiava o descontentamento dos socialistas, porque o problema tardava em ser resolvido.
Em Maio de 2009, numa ‘vistoria’ à terra queimada nas imediações do Hospital dos Marmeleiros, onde fogos recentes chegaram a assustar, os titulares das pastas do Turismo, da Economia e dos Assuntos Sociais do Governo Regional decidiam avançar rapidamente com a limpeza dos “matagais” que ajudaram à propagação das chamas, apontando a reflorestação da zona para o Inverno desse ano.
Há 10 anos, em 2014, uma outra força política, o Partido Nacional Renovador (PNR), alertava para o que considerava ser uma “situação criminosa” perante o “perigo nos Marmeleiros”, referindo à falta de limpeza dos terrenos circundantes. Na altura, alguns elementos do partido estiveram em contacto com a população e deram conta de algumas queixas junto da autarquia funchalense. “Esta situação pode conduzir à morte de centenas de doentes, à destruição do hospital e à destruição de muitas propriedades privadas”, apontavam.
Nesse mesmo ano, alguns meses depois da denuncia do PNR, avançava a limpeza dos terrenos. O Serviço de Saúde da Região (SESARAM) chamava a si a responsabilidade da intervenção. Miguel Ferreira, à data presidente do Conselho de Administração, apontava que as condições da área envolvente ao 'hospital velho' eram razão de preocupação, em especial depois de o SESARAM ter sido obrigado a evacuar aquela unidade, durante os incêndios do Verão do ano anterior.
A intervenção implicava a limpeza do matagal, mas também a criação de patamares e a plantação de folhosas, como castanheiros, nogueiras e espécies da Laurissilva. Havia, também, a intenção de criar um estacionamento. Foi feita uma adjudicação por ajuste directo à empresa Florasanto por 48.750 euros, para ‘Prestação de serviços de limpeza de terreno, controlo de espécies invasoras e fornecimento e plantação de árvores’. Os incêndios de 2016 voltaram a ameaçar aquela zona, obrigado a nova intervenção depois disso. Hoje pouco resta dessa plantação passada.
Com menor distância temporal, em 2017, já depois dos devastadores incêndios de 2016, o Governo Regional, numa espécie de Raio-X aos ‘Marmeleiros’, o Executivo madeirense assumia como prioridade a desmatação dos terrenos envolventes, dada a infestação de acácias, considerando, por isso, urgente o respectivo corte acima da raiz por forma a não deixar o terreno árido.
Perante o referido, facilmente que se conclui que o problema do matagal nos terrenos que circundam o Hospital dos Marmeleiros e a falta de limpeza dos mesmos é recorrente. E da mesma forma que é frequente noticiarmos as queixas da população ou de forças partidárias em relação a esse problema, tem sido, igualmente, comum darmos conta das intervenções e limpezas feitas nesse mesmo espaço, independentemente da entidade que as leve a cabo.
Conclui-se, por isso, que a afirmação do leitor do DIÁRIO, no que respeita à limpeza desses terrenos ou à falta dela, é verdadeira.