Mais de 2.500 pessoas detidas em protestos no Bangladesh
As autoridades do Bangladesh detiveram mais de 2.500 pessoas durante as manifestações dos últimos dias contra as quotas de recrutamento para a função pública que resultaram numa vaga de protestos sem precedentes no país.
Os números foram avançados hoje pela agência France-Presse, que contabilizou ainda pelo menos 174 mortos durante os distúrbios, de acordo com informações recolhidas junto das autoridades policiais e de hospitais.
Mais de 1.200 pessoas foram detidas em Daca, a capital do país, e na periferia da cidade, confirmaram autoridades policiais.
Além destas, cerca de 600 pessoas foram presas na cidade portuária de Chittagong e nos arredores, assim como centenas de outras em vários distritos do país.
Estes últimos números elevam o total de detenções registado pela France-Presse para 2.580.
Os protestos contra as quotas de recrutamento para a função pública, que favoreciam grupos considerados próximos do partido no poder, deram origem à pior onda de violência desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina assumiu o poder, há 15 anos.
As autoridades impuseram inicialmente o recolher obrigatório, enviaram soldados para a região sul e fecharam a internet em todo o país durante cinco dias, o que reduziu drasticamente a troca de informações e perturbou a vida quotidiana das populações e das empresas.
A internet foi gradualmente restaurada na noite de hoje, como o ministro das Telecomunicações, Junaid Ahmed Palak, tinha prometido pouco antes, mas a rede móvel, amplamente utilizada pelos manifestantes, permaneceu cortada.
As autoridades anunciaram também redução do recolher obrigatório para permitir aos residentes abastecerem-se de produtos essenciais, assim como a reabertura dos bancos.
A externalização de serviços digitais gera cerca dois mil milhões de dólares por ano no Bangladesh, mas o setor teme que a suspensão da internet no país possa ter ameaçado a sua existência.
Em pequenos escritórios, centenas de milhares de trabalhadores fornecem serviços de suporte digital a clientes em todo o mundo, como `chat´ de voz e texto, serviços de e-mail, gerenciamento de inventário on-line, processamento de imagens, que dependem de uma boa conexão.
"Quando um atraso de cinco minutos não é aceitável neste tipo de trabalho, uma suspensão completa é francamente um desastre", lamentou Fahim Mashroor, empresário da área tecnológica e antigo presidente da Associação de Software e Serviços de Bangladesh.
Apesar de o Governo de Daca ter anunciado hoje a retoma da ligação da internet de alta velocidade, os profissionais desta área consideram que pode ser tarde demais, temendo que os seus concorrentes na Índia, nas Filipinas e no Vietname assumam as contas dos seus clientes.
Com cerca de 18 milhões de jovens desempregados, segundo dados oficiais, a reintrodução do sistema de quotas na função pública em junho provocou indignação nos últimos dias.
Em 2018, o Governo aboliu o sistema de quotas que anteriormente reservava 56% dos postos de admissão no funcionalismo público aos filhos dos veteranos da guerra de libertação do país contra o Paquistão em 1971, e outros grupos especiais, que favoreciam as elites próximas do poder.
O Tribunal Superior de Justiça ordenou em junho o restabelecimento destas quotas, desencadeando uma vaga de protestos nas ruas do país.
No entanto, o Supremo anulou parcialmente esta ordem no último domingo, numa tentativa de travar esses protestos populares, liderados por estudantes, mas não aboliu totalmente a medida.