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Mar

Quem dele vive e dele precisa para se manter, agradece-lhe com carinho a oportunidade

O mar é vida, reflexo, lugar de sonhos e encantamentos, de histórias fantásticas e cativantes. O mar também é tristeza, lugar de lágrimas, perdas e lutos profundos. O mar cativa para a vida e para a morte. O mar é terapêutico, promove saúde. O mar é alimento.

Vivem no mar milhares de espécies que se alimentam e nos alimentam num equilíbrio fantástico promovido pela complexidade dos ecossistemas que de fórmulas emaranhadas resultam respostas simples e singulares. É impossível confundir as particularidades da beleza dos oceanos.

Quem vive ou já viveu perto do mar sabe o quão difícil é sobreviver sem ele. Há uma ligação de sentidos que se intensifica com o amadurecimento da vida e o depósito das memórias. O som, o cheiro, o toque, o prazer da entrada, a emoção da aventura, os medos misturados com sabor a conquista. As férias, o verão, os amigos, os amores, a nostalgia das partidas e o prazer de cada regresso. Tudo se intensifica na sua companhia.

Quem dele vive e dele precisa para se manter, agradece-lhe com carinho a oportunidade e, em cada reentrada, tem a convicção de que há um risco que ultrapassa a experiência. Não pode haver distrações, nem ligeireza na abordagem.

No desporto, o mar é mais um lugar onde o prazer se funde com o risco e o desafio, numa profunda relação de comprometimento e aprendizagem permanente.

O que do mar recebemos e lhe devolvemos, em profundo reconhecimento, tem vindo a perder-se nas decisões e interesses políticos e comunitários. Há uma desconexão entre o que se sabe e que se faz que tem vindo a acelerar o descuido e desrespeito, num contínuo de más decisões. Contudo, observamos que cada vez mais os locais de férias preferidos da população mundial são locais junto ao mar. O mar passou, para muitos, a ter um uso utilitário, como se existisse apenas para ser “consumido” de acordo com os interesses particulares.

É neste egoísmo comunitário que continuamos a viver. Acredito que as próximas gerações irão fazer a diferença, apesar de ficar profundamente triste por ter sido cúmplice do caminho que continuamos a traçar. Destruir um órgão vital é desprezar a vida.