DNOTICIAS.PT
Explicador Madeira

Quando os filhos levam os pais à ‘exaustão’. Saiba o que é o ‘Burnout’ Parental

A falta de apoio aliada a uma rotina profissional extenuante, brindada ainda com o ‘bombardeamento’ de imagens perfeitas nas redes sociais, levam a que muitos pais, na tentativa de corresponder às altíssimas expectativas, entrem em esgotamento

None

O ‘burnout’, síndrome do esgotamento profissional, integra, desde 2022, a Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS), como um problema associado à parte profissional do individuo, mas o fenómeno que tem ganho cada vez mais expressão em todo o mundo, desde a pandemia, decorre do processo de criar os filhos, muitas vezes sem apoio, numa rotina exigente que tem levado muitos pais a viver sob um elevado nível de stress e potencial esgotamento.

O que é o ‘burnout’ parental?

 É um síndrome caracterizado por uma fadiga extrema, não só física como mental, provocada pelo stress associado ao cuidado de crianças e adolescentes, que pode acarretar sérias consequências para ambas as partes.

Como identificar?

De acordo com a American Psychological Association (APA), a principal organização científica e profissional que representa a psicologia nos Estados Unidos, se os sintomas em baixo listados ocorrerem de forma intensa e persistente poderá estar perante um caso de ‘burnout’ parental:

  •  exaustão física e mental;
  • Falta de sono;
  • Maior irritabilidade e intolerância;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Sentimento de frustração/culpa/vergonha em relação ao modo como desempenha o papel de cuidador;
  • Distanciamento emocional em relação à criança;
  • Isolamento;
  • Alteração do apetite;
  • Comportamento obsessivo-compulsivo e/ou violento.

Factores que podem potenciar:

  • Expectativas irrealistas sobre a parentalidade;
  • Ausência de apoio do outro progenitor/rede familiar;
  • Dedicação exclusiva aos filhos, negligenciando o autocuidado;
  • Acompanhamento excessivo da educação e/ou actividades extracurriculares;
  • Horários sobrecarregados e dificuldade em delegar tarefas;
  • Problemas financeiros;
  • Problemas de saúde de um filho.

Como ultrapassar ou prevenir?

  • Partilhar abertamente os seus sentimentos;
  • Baixar as expectativas e colocar de parte as comparações;
  • Cuidar de si;
  • Fazer pequenas pausas (tirar cinco minutos para respirar fundo);
  • Praticar exercício físico (ajuda a reduzir o stress e a combater a depressão);
  • Alimentação saudável;
  • Planear a semana;
  • Reavaliar a sua agenda e a das crianças;
  • Pedir ajuda a amigos e familiares;
  • Consultar um profissional de saúde.

Um estudo publicado no jornal científico Affective Science”, que abrangeu 42 países de todos os continentes,  levado a cabo por Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak  da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica e  coordenado em Portugal, por Anne Marie Fontaine, da Universidade do Porto, e Maria Filomena Gaspar, da Universidade de Coimbra, concluiu que os países ocidentais, principalmente, “os mais ricos e onde há uma cultura mais individualista, são os mais afectados pelo burnout parental”, por ser “uma actividade muito solitária, diferente das culturas mais colectivistas, como é o caso dos países de África, em que há um envolvimento maior de toda a comunidade na educação das crianças”.

Não é à toa que um dos provérbios africanos mais difundidos em todo o mundo dá conta que "é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança".