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Trump, a desinformação e a sua rentabilidade

A desinformação é tão antiga quanto a nossa existência e está documentada em grandes obras da Antiguidade Clássica, como a Odisseia, uma epopeia grega presumivelmente escrita por Homero que relata uma eficaz estratégia de engano, o Cavalo de Tróia. Já o conceito de “fake news” foi utilizado pela primeira vez em 1925 por um jornalista da Hapers Magazine que contava aos seus leitores como a imprensa combatia o rumor, o mercado manipulador e a propaganda.

Em 2016, os termos desinformação e “fake news” tornaram-se comuns em contextos essencialmente políticos quando se vulgarizaram sobretudo com a campanha eleitoral para as Presidenciais nos Estados Unidos. Contudo, já no referendo do Brexit tinham atingido um curioso nível de popularização. O uso do termo “fake news” generalizou-se de tal forma que, em 2017, o dicionário inglês Collins elegeu-o como a palavra do ano.

Desde então, vários acontecimentos – políticos ou não – têm colocado a desinformação na agenda do dia, tais como as eleições no Brasil, diferentes momentos eleitorais na Europa e no Mundo, a pandemia de Covid-19, confrontos bélicos e diversas crises financeiras, entre muitos outros.

A recente tentativa de assassinato do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em pleno comício político, veio agravar ainda mais a proliferação das denominadas “fake news” num país que já vivia um momento delicado em termos desinformacionais devido à intenção de uma recandidatura do candidato republicano.

Conforme constatado e divulgado por diversos canais de notícias online, as teorias da conspiração e os discursos de ódio não tardaram a inflamar as redes sociais, alegando-se encenação para comover o eleitorado ou uma ordem de ataque por parte do atual presidente Joe Biden, do antigo Barack Obama ou mesmo da antiga rival Hillary Clinton, com evidente intenção de polarização política.

Momentos depois do atentado – que teve lugar curiosamente um mês depois da publicação do regulamento europeu que cria regras harmonizadas em matéria de inteligência artificial – começaram a circular nas plataformas de redes sociais, a nível mundial, imagens e vídeos manipulados através de inteligência artificial (“deepfakes”). Também se espalharam conteúdos desinformativos no Facebook, Instagram, X e TikTok através de robôs (“bots”).

Na verdade, estas publicações proliferam na Internet porque são uma estratégia para tentar obter vantagem e popularidade ou uma forma de desacreditar o adversário, constatando-se que, infelizmente, pese todos os esforços que se fazem para lutar contra a desinformação, esta continua a espalhar-se de forma descontrolada e alheia a tudo e todos. Navega entre continentes e chega num ápice aos nossos ecrãs, o que comprova que não são suficientes as anunciadas limitações que as plataformas de redes sociais alegam ter criado. E provavelmente isto só acontece porque a desinformação é conveniente a vários níveis, sobretudo a nível financeiro, uma vez que esta se pode traduzir em lucro. É que a desinformação é rentável. Infelizmente!