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Análise

Acabaram-se as desculpas

É hora de recuperar o tempo perdido e de tirar da gaveta o que foi adiado

Aprovados que estão os documentos e cartilhas que garantem governabilidade regional, até ver, importa que cada um dos que juraram solenemente cumprir com lealdade a missão colectiva que lhes foi confiada deixe o sofá para o qual foi remetido nos últimos tempos ou onde confortavelmente se instalou durante os 200 dias de 2024 e outros tantos do ano anterior.

É hora de fazer acontecer, bem melhor do que aquilo que de questionável foi feito por tradição e eleitoralismo, acautelando os superiores interesses do povo farto de problemas e ávido de soluções, sem comprometer equilíbrios, nem gerar mais assimetrias, pois nesta terra, em que alguns irresponsáveis ficam nas margens por vontade própria e falta de compromisso com desígnios comuns, ziguezagueando conforme as circunstâncias, não são poucos os que arriscam a marginalização sem culpas. Tudo à conta de razões absurdas ditadas por terceiros que elegeram conscientemente, falta de sorte na vida e défice de imaginação de quem decide. É hora de tirar da gaveta o que ganhou pó nos prolongados meses de incerteza por falta de coragem política, por medo das consequências que as decisões envolvem, mesmo que documentadas, ponderadas e vitais, e também por inércia calculada em função de calendários tribais ou agendas pessoais. É hora de distribuir esperança por quem precisa de acreditar que um dia terá casa sem estender a mão, emprego digno sem vender a alma e notoriedade sem exibir o corpo. É hora de deixar brilhar quem trabalha, de premiar o mérito de quem tem ambições legítimas e de distinguir quem coloca o saber e a visão ao serviço dos outros. É que nem todos são filhos da cunha, do compadrio ou da inveja, como os abutres do regime, hoje profundamente ressabiados de tal forma que se escondem no anonimato, tentam a todo custo insinuar. É hora de cultivar o bom senso, perdido entre tacticismos partidários, achismos irrelevantes e ignorância atrevida, a mesma que fomenta a desinformação ou o palpite dos seguidores das anarquias que, sem lugar no pacto com a verdade, passam os dias a plantar boatos e mentiras, com o reles intuito de semear o caos. É hora de ordenar o território sem hostilizar quem quer que seja, turista ou migrante, residente ou passante e de pensar o futuro sem preconceitos, nem estigmatizações. Precisamos muito uns dos outros para que a deriva não se instale, para que as instituições funcionem e para que o escrutínio seja elementar. Assim, mais do que a arrogância entoada pelos que se colocam em bicos de pés nos grandes palcos deixa antever, importa recuperar com mestria o tempo perdido, juntando em projectos que dinamizem o que ficou parado quem quer realmente deixar um legado mesmo que nada ganhe com a proeza. Acabaram-se as desculpas e, com estas, os dramas recorrentes, as encenações interesseiras, os ajustes de contas e os adiamentos incompreensíveis. É hora de governar, com humildade intrínseca, diálogo constante, pluralidade democrática, paciência estratégica e astúcia racional. E de ser oposição focada nas grandes causas, nunca fugindo ao confronto que empreende e que acomoda a diversidade.