Um retrato pitoresco da burocracia lusitana

Senhoras e senhores, peguem nas vossas chávenas de café e sentem-se confortavelmente, que hoje vamos falar da última peripécia da nossa amada burocracia portuguesa. Imaginem só o cenário: o nosso ilustre Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a dar uma de mestre em comunicação e a declarar que as Manifestações de Interesse para imigrantes podem voltar. Era como se o Marcelo estivesse a prometer uma nova edição do programa “Os Amigos do Gaspar”, mas para estrangeiros.

Do outro lado da cidade, no Palácio de São Bento, o Governo olhava para esta declaração com a mesma expressão de alguém que descobre que acabou o pastel de nata no café. “Não pode ser, pá!”, diziam eles. E foi então que o Governo, com a delicadeza de um elefante numa loja de porcelanas, veio a público reafirmar que o fim das Manifestações de Interesse é definitivo. É como aquele amigo que insiste que o Sporting vai ser campeão este ano, mas todos sabemos que a probabilidade é a mesma de encontrarmos um bacalhau a fazer surf na Nazaré.

Mas não fiquemos por aqui. A Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) também decidiu juntar-se à festa, confirmando que ninguém falou sobre o regresso das Manifestações. É como aquela história da prima da vizinha da tua tia que nunca aparece nos jantares de família, mas todos juram que ela existe. “Ninguém falou sobre isso”, admitiram eles, como se fosse um segredo tão bem guardado quanto a receita dos pastéis de Belém.

E para tornar tudo ainda mais interessante, a Guarda Nacional Republicana (GNR) resolveu fazer uma operação em Odemira, local onde a densidade de estrangeiros é quase tão alta quanto a quantidade de sardinhas nas festas de Santo António. Foram 610 cidadãos estrangeiros fiscalizados e 66 autos de contraordenação elaborados. Ora, digam lá se isto não é um verdadeiro “episódio especial” de uma telenovela de Verão?

No meio deste enredo rocambolesco, temos o Governo a tentar mostrar que a imigração agora é feita de forma organizada e com visto. É como se estivessem a dizer: “Vejam só, estamos a tentar ser tão organizados quanto uma procissão de Nossa Senhora da Agonia”. Mas, convenhamos, na prática, é mais como tentar organizar uma festa de aniversário de crianças hiperativas.

Este episódio só reforça uma coisa: a nossa habilidade inata para criar confusão onde menos se espera. Entre o Presidente a lançar pistas falsas e o Governo a desmentir com a mesma energia de quem tenta apagar um fogo com um copo de água, fica claro que, em Portugal, a única certeza é a nossa capacidade de transformar a burocracia numa verdadeira comédia nacional.

Teremos que aguardar pelas próximas cenas deste folhetim, onde quem sabe, na próxima semana, o Marcelo anuncia que os imigrantes afinal vão ter um cartão de sócio do Benfica. E até lá, mantenham-se atentos e, sobretudo, bem-humorados, porque aqui, meus amigos, rir é mesmo o melhor remédio.

Gregório José